Friday, November 19, 2010

"Futebol é coisa pra macho", ou "Por que eu gosto de futebol".


O imortal e inesquecível Felipão, na época em que jogava futebol, demonstrando como se faz



"Dizem que o futebol é uma questão de vida ou morte. Eu discordo... é muito mais importante do que isso!"

Bil Shankly, ex técnico do Liverpool.


O jogo desta Quarta, o maior clássico do futebol entre países, me lembrou o motivo de eu ser apaixonado por futebol. Argentina versus Brasil. Não é de se assustar que mesmo um amistoso entre essas duas seleções tenha se tornado algo de extrema importância. Estamos falando da Argentina, o povo mais apaixonado por futebol no mundo, e claro, do Brasil. O Texto que se segue é um tanto quanto auto-biográfico, e ressalvando as enormes proporções, está para a minha vida como o livro Febre de Bola está para o autor inglês Nick Hornby, em que o genial escritor pop divaga sobre sua paixão pelo clássico esporte bretão.

Até certa idade, quando eu era um simples inocente juvenil, minha idéia de futebol era diversa da que tenho hoje. Acreditava no mito que os jornalistas brasileiros chamam de "Futebol Arte", o termo mais ridículo e contraditório que se tem notícia. Mudei de idéia e de paixão ao ver um depoimento do escritor gremista Eduardo Bueno(um dos caras que mais vende livros no Brasil, e uma espécie de guru do futebol para muita gente) sobre a famosa Batalha dos Aflitos. Para os infelizes desinformados, a Batalha dos Aflitos foi um "jogo" entre Grêmio e Náutico que valia o retorno do tricolor gaúcho à primeira divisão do campeonato brasileiro. Jogo é entre aspas mesmo, pois aquilo foi uma verdadeira batalha campal que se deu em Recife, no estádio dos Aflitos. O Grêmio não podia levar nenhum gol, e com quatro jogadores expulsos, após a defesa de um pênalti marcado a favor do Náutico e mesmo com apenas 7 jogadores em campo, marcou um golaço perto do fim, terminando assim em 1 x 0 e o retorno garantido; aquele dia ficou marcado pelo feito histórico e abriu a minha visão de que futebol não é alegria. Futebol é guerra. E se for arte, é uma epopéia, ou dependendo do caso, uma tragédia grega. E claro, naquele dia me tornei gremista. E admirador voraz do futebol gaúcho/uruguaio/argentino.

Que me perdoem os politicamente corretos e amantes do futebol bailarino, mas futebol arte é coisa de fresco. Por quê? Como o citado Eduardo Bueno disse, o futebol é uma metáfora da vida. E a vida não é fácil, parceiro. Tal como a vida, o futebol árduo, duro, difícil, cheio de sofrimento, e com a glória redentora no final. A vida não é um tapete verde liso e brilhante, e sim um campo esburacado.

É aí que eu faço uma analogia com o Argentina e Brasil que ocorreu essa semana. Tal como a vida, o futebol árduo, duro, difícil, cheio de sofrimento, e com a glória redentora no final. Nenhuma frase resume melhor o que foi o jogo do que esta. Durante os dias que antecederam à derrota brasileira, patifes como Ronaldinho Gaúcho, Robinho e Neymar ficaram celebrando o que chamavam de "a volta do futebol arte à seleção brasileira após a Era Dunga". Que futebol arte é esse? Não vi esses meninos da vila(Robinho e Neymar) sobreviverem a um único carrinho da defesa argentina, se esborrachavam todinhos. E logo após a luta que foi os noventa minutos de jogo, Messi resolve fazer a parte dele e constrói a glória redentora argentina do final. Entenderam?

Essa idiotização que cerca o futebol brasileiro é fabricada pela Globo, que depois dos conflitos que teve com o ex-técnico Dunga(o magnífico Dunga, que foi um exímio volante de contenção, capitão do tetra e treinador decente), passou a demonizar o homem. Mas não se enganem, desde 1990 a imprensa do Brasil decidiu dar o nome de "Era Dunga" à fase da Seleção Brasileira que tinha Dunga no comando, caracterizada por o que eles chamavam de um jogo feio, um futebol sem brilho. 1990. E ao fim da copa de 2010 vários jornais estampavam Tem fim a Era Dunga. Vamos fazer uma retrospectiva, se a Era Dunga começa em 1990 e termina em 2010; das cinco Copas do Mundo que o Brasil participou, foram DUAS Copas do Mundo ganhas, três finais e vários títulos menores. Ok, eu sei que das cinco copas deste período o Dunga só esteve à frente de quatro(três como capitão e uma como técnico), mas naquela copa de 2002, vocês acham mesmo que a seleção do maravilhoso LUÍS FELIPÃO SCOLARI, o Brasil jogava futebol arte? Pff... Sem contar que durante o período que Dunga foi técnico da seleção, o Brasil NUNCA perdeu da Argentina na seleção principal, pelo contrário, foram várias goleadas. Pense um pouco, Felipe Melo teria deixado Messi fazer aquele gol no fim do jogo? Seria um baita de um carrinho nele.

Comprovando a tese do sucesso do Futebol-Força(uma redundância, pois o futebol É força), os três times mais ricos do Brasil, os três "grandes" da cidade de São Paulo importam técnicos gaúchos(pode ver a composição atual). E dos quatro últimos técnicos da seleção, três foram gaúchos; Felipão, Dunga e Mano Menezes.

Coisa que me irrita é essa babação por futebol arte. É claro que um time tem que ter jogadores com habilidade, tá aí o Messi para provar. Mas futebol não é feito de beleza e alegria, e sim de superação, resistência e força. Exemplo, quando jornalistas da TV estão fazendo listas a escolher o "gol mais bonito da rodada", ele pode até parecer uma obra de arte, mas nenhum gol lindo e maravilhoso, reprisado 300 vezes vai ter 10% da importância e emoção do gol mais feio, chutado de bico mas visto ao vivo no estádio num momento de aflição.

Futebol é isso. A essência é essa. Por isso nem assisto ao Brasileirão. Pontos corridos é chato, monótono e besta, passa ao lado da essência do futebol. Bom mesmo é o primeiro semestre, cujos esquemas dos principais campeonatos(a COPA DO BRASIL e a COPA LIBERTADORES) capturam o espírito do esporte bretão logo pelo nome: jogos de mata-mata.

Já pensou se a Copa do Mundo fosse feita de pontos corridos e não de mata-mata? Eu me mataria.

Sunday, November 14, 2010

Mixtape #2 - Soundtracks



A mixtape número 2 será sobre meu assunto favorito: Cinema. Temas de filmes que marcaram minha vida. Atenção: TEMAS que marcaram minha vida, não os filmes - embora eu adore todos os filmes da lista, escolhi as canções por critérios simplesmente de qualidade das músicas, aliando ao fato de terem servido perfeitamente como trilha sonora para determinada cena ou até várias cenas.

Decidi por não incluir músicas orquestrais, pois aí só ia ter John Williams e Ennio Morricone, concordam?

Algumas das cenas em que as músicas tocam são de filmes bem recentes, como a brilhante entrada de Watchmen ao som de The Times They Are A-Changin' do Bob Dylan; e tem as mais antigas, como Paint It Black dos Stones no clássico de guerra Full Metal Jacket, do mestre Stanley Kubrick, e também a famosa cena de entrada de A Primeira Noite de um Homem, perfeita à melodia de Simon and Garfunkel. Mas vou confessar as minhas favoritas... Tinham que ser, claro, de filmes do Martin Scorsese. The Hands That Built America(U2), de Gangues de Nova York; e I'm Shipping Up To Boston(Drokick Murphys), de Os Infiltrados.

Bom, aqui vai a lista:

Artista - Música - Filme

Bob Dylan - The Times They Are A-Changin' - Watchmen
Simon and Garfunkel - Sound of Silence - A Primeira Noite de um homem
Yann Tiersen - Summer 1978 - Adeus, Lenin!
U2 - The Hands That Built America - Gangues de Nova York
Dropkick Murphys - I'm Shipping Up To Boston - Os Infiltrados
Edith Piaf - Non je ne regrette - Inception
Chingon - Malaguena Salerosa - Kill Bill Vol.2
Eddie Vedder - Society - Na Natureza Selvagem
Jon Brion - Tema de 'Brilho Eterno de uma mente sem lembranças'
The Rolling Stones - Paint It Black - Full Metal Jacket
Lou Reed - Perfect Day - Trainspotting
Steelers Wheel - Stuck in the middle with you - Cães de Aluguel
Pixies - Where's my mind? - Clube da Luta


LINK: http://www.megaupload.com/?d=Z5K9CWCE

(Se o link expirar, é só avisar por comentário, que posto um novo)

Friday, October 08, 2010

Realidade que parece ficção




Certa vez o escritor-jornalista brasileiro Leandro Narloch disse: "Artista bem-intencionado é um saco. Arte boa mesmo nasce com raiva, inveja, vingança (prato que se atira quente). É o ódio criativo." Frase mais adequada para a obra de Arte sobre a qual versarei nesse texto... difícil.

Não, esta não é uma resenha de um filme. É uma ode a um filme.
E o filme da vez é Tropa de Elite 2. O violento e denunciante filme de José Padilha.

Não gasto meu tempo no blog para falar mal de um filme. Se alguma obra está aqui, é porque é realmente boa. E na minha visão, Tropa de Elite 2 é uma obra-prima do Cinema Nacional Moderno. E o (agora)Coronel Nascimento está perto de se tornar o maior herói fictício(?) da nação. Conseguiram superar muito bem a expectativa em torno desse lançamento, devido o fenômeno que foi o primeiro filme da série. Este segundo filme é bem diferente, mais detalhista e mais sério. Perde um pouco do ufanismo bastante presente no primeiro e ganha em todos os aspectos por ser um retrato profundamente fiel da violência urbana do Brasil. Um retrato até melhor esmiuçado do que o também ótimo Cidade de Deus, já que o esquema corrupto denunciado aqui vai das favelas do Rio de Janeiro até o Congresso Nacional em Brasília. Tropa de Elite 2 é bem "mais filme" que o primeiro em todos os aspectos.

Ao contrário da futilidade extrema e irritante da maior parte dos filmes brasileiros - filmes cheio de atores globais com roteiro raso que beira o retardo mental e cinebiografias que visam promover celebridades já consagradas pela mídia, religião ou política - (reflexo da sociedade do país, igualmente fútil, a ponto de escolher um palhaço semi analfabeto como maior representante), esta é uma obra que não "entra num ouvido e sai pelo outro" simplesmente, o que é raro. O retorno da Tropa fica na mente do espectador muito tempo depois de saído do cinema. Reflexões e tapas na cara. O herói Nascimento põe o dedo na cara de todos nós. Discussões "papo de sociólogo" irão surgir, mas a revolta com a política e o sistema vai despertar nos coraçõezinhos de vocês também.

Como muito se viu nos trailers e prévias, o foco da crítica do filme mudou do 1º para o 2º. Enquanto em Tropa 1 os vilões eram os traficantes e policiais corruptos, o buraco agora é BEM mais embaixo: políticos, a mídia e as milícias do Rio de Janeiro.

É denso, é revoltante, é muito violento(não a violência glamourizada do cinema americano, mas a violência seca, humilhante e incômoda). Dá orgulho de dizer que o Brasil fez um filme de ação magnífico. Não pela primeira vez, mas americano nenhum fica diante de uma obra tão densa e complexa nos blockbusters que são produzidos por lá, salvo raras exceções. É cinemão que não deixa barato para filme de máfia do Scorsese nenhum!

Não dá para explicar o motivo de Tropa de Elite 2 ser tão bom. Na verdade dá, mas como a maioria ainda não viu o filme, não quero dar spoilers. Torço para que seja um sucesso de bilheteria, que estoure e que todo o país veja, pois merece. Principalmente pelo tom denunciante, que atinge até o nosso herói em determinada parte do filme.

Ao que possam dizer, Tropa 2 não é exagerado. A realidade brasileira(principalmente a do Rio de Janeiro) que se parece muito com a ficção. Até os caricatos e palhaços apresentadores de programas policiais que se elegem deputados estão lá - Alô Paulo Wagner!. Palmas para José Padilha, e para Wagner Moura. Como eu disse, o texto não era uma resenha, mas uma ode. Assim como o filme, que é uma "Ode à Ordem", acima da burocracia ineficiente, da corrupção e da bagunça generalizada, tão comuns no jeitinho brasileiro - principal alvo dos dois filmes da série. Resumindo, é um tiro de 12 na hipocrisia fétida da nossa sociedade. Sim, conversa de sociólogo, mas é.

Viva a ordem! Abaixo o jeitinho brasileiro!

Viva ao Coronel Nascimento. Que seu personagem agora imortal se transforme em ideologia na mente dos brasileiros.

Friday, September 24, 2010

Mixtape - Primavera



Bem, achei um novo hobby. Com uma certa frequência, estarei disponibilizando downloads aqui no blog de mixtapes temáticas. Escolherei músicas cuidadosamente a partir de um tema também escolhido cuidadosamente. Algumas bandas meio desconhecidas, outras já consagradas por clássicos.

E hoje, para celebrar o início da Primavera, vai uma seleção de dez músicas alegres, para embalar os próximos três meses. Músicas pra cima, para se ouvir enquanto se rega o jardim da sua casa.

Link: http://rapidshare.com/files/421013552/Blog_futurismoparanoide.blogspot.com_Mixtape_1_Primavera.rar

Playlist:

Lacrosse - You Can't Say No Forever
Seabear - I Sing I Swim
Sigur Rós - Inní mér syngur vitleysingur
Apanhador Só - Vila do Meio-Dia
Ted Leo and The Pharmacists - Me and Mia
Barry Louis Polisar - All I Want is You
Holger - Let 'em Shine Below
Supercordas - O Céu que você vê
Bidê ou Balde - Bromélias
Arcade Fire - [Antichrist Television Blues]


PS: Caso o link expire, é porque atingiu o máximo de downloads, mas é só solicitar nos comentários que eu upo e ponho o novo link para download aqui.

Monday, August 23, 2010

Apanhador Só - 2010



Música boa.
Aqui no blog eu costumo falar de música de vez em quando. Mas é raro falar só de uma banda específica. Geralmente é sobre várias juntas, de uma cena, de uma época, etc. Se eu dedico um post inteiro a só uma banda, saiba de uma coisa: é porque ela é muito foda.

A novidade da vez é a banda gaúcha de Porto Alegre Apanhador Só, que lançou recentemente um álbum de mesmo nome. Esses rapazes fazem rock, mas não se engane pensando que são os típicos roqueiros gaúchos de terno, que ouvem The Who, exaltam o rock mod e querem os anos 60 de volta. O Apanhador Só canta a poesia simples brasileira. Numa entrevista recente, os rapazes da banda comentaram que as ruas e os bairros de Porto Alegre serviam de grande inspiração para as músicas. Também percebi isso, mas seria eu o único a perceber uma forte "brasilidade" nas melodias e letras da banda?

Surgiram as desnecessárias comparações com Los Hermanos. Realmente desnecessárias. Acredito que o Los Hermanos, pela importância que teve, deixou marcas em muitas das atuais bandas do rock independente do país. Neste caso específico, o que mais lembra é a guitarrinha melodiosa da Apanhador Só, claramente influenciada pelo jeito de tocar de Rodrigo Amarante.

Com o cd "Apanhador Só" lançado em 2010, eles já concorrem na categoria Aposta no VMB10 e sem dúvidas vão rodar o país inteiro conquistando muitos fãs.

Link para download: http://www.apanhadorso.com/

Destaques para: Um Rei e O Zé, Maria Augusta, Nescafé, Bem-me-leve e Vila do Meio Dia.

Monday, August 16, 2010

Quem sabe amanhã? Próximo ano?




"Sempre pensei que aconteceria, de criança acreditava nos adultos que era só pagar pra ver.

Feio, meio assim desconfiado, perna em xis, já barrigudo, duvidando que eu conseguisse crescer.
Mesmo assim, contudo, o tempo foi passando e eu fui adiando, mudo, os grandes dias que ia conhecer.
Quem sabe amanhã? Próximo ano?
Cebolinha com seus planos infalíveis ia me ensinar a ser forte, corajoso, bom de bola, um dos bonitos da escola(muito embora eu não fizesse questão).


Ainda bem que eu sou brasileiro, tão teimoso, esperançoso, orgulhoso de ser pentacampeão, já que se eu fosse americano pegaria uma pistola e a cabeça ia perder a razão:
mataria quinze na escola, estouraria a caixola e apareceria na televisão.


E por fim cresci, de insulto em insulto eu me vi como um adulto, culto, pronto pra o que mesmo? Já nem sei
.
Olho e não encontro, penso se não fui um tonto
de acreditar no conto do vigário que escutei.
Não tem carro me esperando,
não tem mesa reservada,
só uma piada sem graça de português.
Não tem vinho nem champanhe ou taça, só um dedo de cachaça e um troco magro todo fim de mês.

Tudo que eu sempre sonhei.
Tanto que eu consegui...
É tão bom estar aqui...
Quanto ainda está por vir...

Mas bobagem, quanta amargura, eu já sei que a vida é dura, agora é pura questão de se acostumar.
Basta ter coragem e finura e o jogo de cintura aprendido dia a dia, bar em bar.
Pra que reclamar se tem conhaque, se na tevê tem um craque e o meu Timão só entra pra ganhar?

Pra que imitar Chico Buarque, pra que querer ser um mártir se faz parte do momento se entregar?"

Não preciso escrever nada, pois esta música fala por mim: Pullovers; Tudo que eu sempre sonhei.

Tuesday, August 10, 2010

Vários sonhos dentro de um sonho.



Não resisti e tive que escrever algo sobre o filme do momento: Inception. Traduzido para o Brasil, erroneamente(ao meu ver) como A Origem. Filme para nerd nenhum botar defeito.

Mas não se preocupe, não darei spoiler algum. Até porque quanto menos se sabe sobre o filme em questão, mais se aprecia. Só falarei um pouco sobre o impacto do filme. Metade da crítica especializada celebra Inception como o filme do ano, e alguns mais animados o elegem como o mais inovador dos últimos tempos. A outra metade se irrita com o hype feito em torno de Inception e argumenta que o filme não supre a expectativa que se criou por ele, e que o enredo confuso não é sinônimo de profundo.

Sinto-me com autoridade para falar do filme, já sou fã do diretor Cristopher Nolan desde Memento(Amnésia) e um apaixonado por cinema e literatura de Ficção Científica. Mantendo a imparcialidade, alguns fatos devem ser ditos sobre o novo filme do talentoso diretor;

The Inception revoluciona? Não.
Inova? Sim, se analisarmos como parâmetro a Hollywood dos dias de hoje.
Seria o filme o "novo Matrix"? A única semelhança entre The Inception e Matrix é que ambos atingem o mesmo público. Matrix, o original, criou uma franquia que originou mais dois filmes, desenho, quadrinhos, bonecos e video-games. Inception não cria isso.
Mas um fato que não pode ser negado é que estamos diante SIM do melhor filme da indústria americana em anos. O cinema de alto orçamento não se depara com algo tão bom desde Senhor dos Anéis, talvez.

Em dias de uma Hollywood infantilizada que busca cada vez mais como fonte as histórias em quadrinho e a literatura infanto-juvenil, Inception marca. Não acostumados com filmes quebra-cabeça, o público pode até elegê-lo como um filme profundo, complexo e altamente cabeça, mas não achei. Achei simples, do tipo que assistindo apenas uma vez dá para sacar sem problemas. O roteiro é ótimo sim, mas não perfeito. E algo que tem sido muito pouco comentado é que as cenas de ação são os ponto alto do filme, pois é algo de se encher os olhos. Visualmente, Inception não tem a riqueza de detalhes de Avatar, mas empolga mais e imortaliza cenários aos quais o público antes não estava acostumado(a sequência de cenas do elevador preso no sonho sem gravidade é fantástica!).

Posso dizer que ninguém aguentava mais ver filmes sci-fi batendo na mesma tecla: a tecnologia/maquinária insurgindo contra o homem/criador. Inception, ou A Origem, é uma ficção científica ambientada dentro da mente humana que entra para a lista dos melhores filmes do gênero, ao lado de Metropolis, Blade Runner e Matrix.

Sunday, August 01, 2010

indie.br



10 bandas do indie nacional que valem a pena.

Se você é um dos muitos que reclama que o rock no Brasil está péssimo por conta dos Cines, Restarts e diversos coloridos por aí afora, ou você é um completo preguiçoso, ou tem um tremento mal-gosto. O cenário independente brasileiro vai muito bem sim, repleto de bandas dignas.

Para início de conversa, quem abre a boca pra falar mal de graça ignorou completamente os recentes lançamentos do Móveis Coloniais de Acajú(C_mpl_te), do Mombojó(Amigo do Tempo) e o álbum elogiadíssimo da banda de rock n' roll goiana Black Drawing Chalks(Life is a big holiday for us). Essas três bandas, hoje, já encabeçam a lista de festivais independentes do país e aparecem com frequência até na MTV.

Rezando na cartilha do Indie Rock, criado pelo Pavement, no início dos anos 90, dispomos de bandas ótimas, é o caso dos paulistanos do Pullovers, banda com dez anos de formação que recentemente lançou o ótimo álbum Tudo que sempre sonhei e do Holger; também dos gaúchos do Superguidis, que recentemente sobrepôs os instrumentos de cordas às guitarras construindo um som maduro e profundo(álbum lançado em 2010, auto-intitulado). Outras duas bandas com uma "raíz comum" são a Supercordas(RJ) e Charme Chulo(PR), que fazem um som um pouco mais abrasileirado; no caso do Supercordas acrescenta-se ao rock um psicodelismo bucólico(ou seria bucolismo psicodélico?) e o Charme Chulo bebe na fonte da música caipira brasileira. Álbuns indicados: Seres verdes ao redor (Supercordas); Nova Onda Caipira(Charme Chulo).

Por último, indico duas bandas de Rock n' Roll, e animalescas. Com R maiúsculo. Uma é a gaúcha Rinoceronte, som pesado tal qual o animal que dá nome à banda. E a outra a excelente Orquestra Camarones Guitarrística, de Natal-RN, rock pesado instrumental, energizante; banda à altura de grandes festivais e para se curtir ao vivo.

Resumindo, é isto. Se você ignorar este cenário, ou é preguiçoso... ou não gosta de rock.

Saturday, July 24, 2010

Cortando os laços pela raíz




"Estou saindo da via única que sempre caminhei. É uma coisa pessoal. Indo a qualquer lugar que eu possa suportar, aqui dentro desta gaiola eu não me arrependo de estar.

Pare, antes que você caia dentro do buraco que cavei ao redor de mim. É diferente pra mim, eu simplesmente tenho que vagar pelo mundo... sozinho."


(Pete Yorn - Lose You)

"Então você vai mesmo embora?"

Sim, vou embora. Preciso fazer isso por mim. Foi o que eu falei enquanto terminava de arrumar minha mala. Só uma mala.

"Tem muita gente aqui que vai sentir sua falta"

Eu disse que nada mais me prendia aqui, e que quase ninguém sentiria minha falta.

- É simplesmente sufocante ficar aqui. Agora que eu tenho um diploma, sou obrigado a honrá-lo. Amanhã na festa de formatura meu pai vai mostrá-lo com orgulho, falar de todo o meu potencial para amigos e familiares, numa forma de fazer cobrança indiretamente. As pessoas me perguntam porque eu ainda não tenho carro, ou quanto vou ganhar, aonde irei trabalhar... sufocante demais.

- Você cresceu aqui, as pessoas gostam de você... essas cobranças acontecem com todo mundo, em algum momento.

- Não... passei minha vida inteira fazendo coisas levando em consideração os outros, agora é a minha vez. Se eu me arrebentar nisso, quero fazer sem alguém por trás me julgando, reprovando ou aprovando.

- É, acho que crescer significa fazer algo que a gente não gosta visando algo maior.

- Amadurecer é uma merda. Esse algo maior ao qual você se referiu é simplesmente estar o tempo todo agradando alguém, se for assim, prefiro ir para uma cidade distante, longe de todos que conheço, mas sendo feliz, mesmo que isto signifique ser imaturo para sempre, já que amadurecer é só o ato de estar disposto a renunciar do que se gosta para agradar aos outros.

- Feliz? Você realmente acha que vai ser feliz no lugar em que está indo?

- Não, mas eu já não sou feliz aqui, pelo menos lá minhas chances aumentam...

Eu não estava imigrando para o Sul, eu estava migrando daqui. Não estava chegando a lugar nenhum, estava apenas saindo de um. Era algo que precisava fazer para continuar ao menos vivo. Continuar aonde eu estava poderia manter meu corpo vivo, mas minha alma já estaria amputada de mim mesmo se eu tivesse ficado.

- Porquê você não fica? Se eu pedisse, por mim, faria alguma diferença?

- Não sou do tipo de pessoa que fica. Nem do tipo que chega a algum lugar. Sou do tipo que vai embora.

- Do tipo que foge de encarar seus problemas. Um covarde, é o que você é. Você quer estar ilhado. É mais fácil conviver com a infelicidade do que a felicidade, a obrigação é menor.

Nisso ela estava certa. Como disse Vinícius de Morais, quem de dentro de si não sai vai morrer sem amar ninguém. E aqui estou, muito perto de morrer, sem nunca ter amado ninguém na vida. Pouco sabia eu que me tornaria um nômade, mudande de cidade em cidade. A partir do momento que eu estabelecesse qualquer laço emocional com algo ou alguém, me mudava. Se eu soubesse disso na época e não fosse tão jovem e arrogante, teria ficado, teria me arriscado. Perder algo é melhor do que hesitar e não tentar, só quem sabe disso é quem já está velho e perto de morrer e não possui nenhuma memória boa da vida para se ater no momento da morte e assim morrer feliz. Mas não me arrependo do que fiz, ao menos manti minha alma perto de mim. Afinal, é melhor não viver infeliz do que morrer feliz. E esta foi a escolha que tomei.

- Por favor, não vá. Imagine o quanto que você ganharia aqui se não fosse. Ganharia muitas coisas boas, muito mais do que em qualquer lugar que você vá assim, sozinho.

- Você não entendeu. Não penso nisso. Estou pensando no quanto eu perderia se ficasse.

Sunday, July 18, 2010

Advogado do... vampiro.




Em um dos posts recentes, eu falei mal da série de livros Crepúsculo. O que não é nada demais, realmente acho esses livrinhos(e os filmes também) chatos e rasos demais, com uma mania de profundidade inexistente - e no caso dos filmes da série, um agravante: as atuações hor-rí-veis dos protagonistas, difícil de ver. Além de manchar o histórico de vampiros legais e assustadores

Mas vou dar uma de advogado do diabo, ou melhor, do vampiro. O fato é que hoje, todos os "cults" jogam o arsenal inteiro de pedras na série criada pela Stephanie Meyer, querendo "conscientizar" os fãs de que o que eles lêem/vêem/consumem é lixo. O que estas pessoas estão esquecendo é que a GRANDE maioria dos fãs de Crepúsculo é composta por pré-adolescentes do sexo feminino. E desde que o mundo é mundo, as garotas de 12 anos sonham com contos de fada, príncipes encantados(no caso, vampiros e lobisomens), e essas coisas todas. Não há como mudar isso.

Além do mais, que mal pode haver em fazer crianças e adolescentes lerem seu primeiro livro sem ser por ordem do colégio? Nenhum. Eu ia preferir que minha filha comprasse livros sobre vampiros e posters do Edward Cullen ou do Jacob-sem-camisa ao invés de dançar o Rebolation nas festas da cidade baixa.

Mas... se você tem mais de 15 anos e ainda sonha com um vampiro milionário e imortal que vai aparecer na sua classe de ensino médio, procure ajuda. Rápido.

Thursday, July 15, 2010

Playlist das férias



Playlist das férias.

City and Colour - Body in a box
Thom Yorke - Harrowdown Hill
Kraftwerk - The Robots
Coldplay - Strawberry Swing
The Prodigy - Take me to the hospital
Anamanaguchi - Blackout City
Mombojó - Papapa
Klaxons - Flashover
Danko Jones - Full of regret
Yeah Yeah Yeahs - Maps


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Comentários acerca das férias: Dia do toreiro na África do Sul. Lamentei profundamente a Alemanha ter perdido a Copa do Mundo de futebol/2010. Foi o futebol mais bonito, mas o título caiu nas mãos de uma Suíça que faz um gol por jogo, a Espanha. Mas ok, mérito pelos quatro anos perfeitos dos espanhóis(eliminatórias + eurocopa + copa do mundo), e muito merecida também a escolha de Diego Forlán como melhor jogador do torneio. Porém, festejei o fim da hipocrisia do "império do amor" flamenguista. Amor? Todos nós sabemos que no Flamengo, especialmente nos últimos tempos, só tem se incentivado práticas absurdas de jogadores psicopatas que pensam estar acima da lei(Adriano, Wagner Love, e o próprio Bruno). E é isso tudo. Eu vou falar de quê? No último mês o mundo SÓ falou de futebol, e foi muito legal. Espero que o Brasil realize uma ótima Copa em 2014, e fature o título(sem superfaturar o preço dos estádios, né?).

Muito em breve novos contos literários e um texto quase pronto sobre os candidatos a presidente do país.

Sunday, July 04, 2010

Um googolplex de criatividade



"Quando achei que estava morrendo na base da ponte Loschwitz, pouco depois do bombardeio a Dresden, um único pensamento ocupava minha mente: Continue pensando. O pensamento me manteria vivo. Mas agora estou vivo e o pensamento está me matando. Penso, penso, penso. Não consigo parar de pensar naquela noite, o céu como água negra, e como eu tinha tudo poucas horas antes de perder tudo. Sua tia me dissera que estava grávida, fiquei exultante, devia ter aprendido a não confiar nisso, cem anos de alegria podem ser apagados em um segundo(...)

Quando sua mãe me encontrou na padaria da Broadway, eu quis contar tudo para ela. Se eu tivesse conseguido, talvez nossa vida tivesse sido diferente, talvez eu estivesse aí com vocês e não aqui. Se eu tivesse dito "Perdi um bebê"... se eu tivesse dito "Tenho tanto medo de perder algo que amo que me recuso a amar qualquer coisa", talvez isso pudesse tornar possível o impossível, mas não consegui. Eu tinha enterrado muita coisa dentro de mim, fundo demais. E aqui estou eu, ao invés de aí. Estou sentado nessa biblioteca, a milhares de kilômetros de minha vida, escrevendo mais uma carta que sei que não poderei enviar. Como aquele rapaz fazendo amor atrás do galpão se tornou este senhor solitário escrevendo esta carta nessa mesa?

Amo você,
Seu pai."


(Extremamente Alto & Incrivelmente Perto)

Se você tem interesse em Literatura(de verdade, não as séries de "livros" sobre vampirinhos cristãos, conservadores e adolescentes - ou bruxinhos), mas não sabe exatamente por onde começar, eu lhe dou uma dica: Os dois livros de Jonathan Safran Foer.

O jovem escritor nova-iorquino, que já saiu da lista de "promessas da literatura" para se firmar como um dos grandes novos nomes da narrativa, escreveu três livros, os dois romances Extremamente Alto & Incrivelmente Perto e Tudo se Ilumina(que virou filme, sob o título de "Uma Vida Iluminada", também ótimo por sinal), e o livro de não-ficção Eating Animals, ainda sem tradução. Em poucas palavras: Jonathan Safran Foer é aquele escritor que te faz lembrar do motivo pelo qual você gosta de ler, ou então, o que te faz começar a gostar de ler.

Talvez meu livro favorito, dentre todos que já li, seja Extremamente Alto & Incrivelmente Perto. A narrativa de Foer é diferente, utiliza da fantasia como metáfora para explicar a realidade. E sempre de forma bem-humorada. Um livro que utiliza de diversos métodos para contar a história de um garoto que tenta superar a morte do pai após os atentados de 11 de Setembro em Nova York, ligando à história de seus antepassados, desde o bombardeio à pacífica cidade de Dresden - Alemanha, na Segunda Guerra Mundial. Um ótimo livro, amplamente divulgado como sendo literatura pós-moderna(truques de linguagem, jogos de espelho e contrapontos temporais), sobre como as pessoas lidam com a morte e com a perda, mas sem soar triste. O livro está em processo de adaptação para o cinema.

Tudo se Ilumina, muitos já devem ter visto sua adaptação para o cinema, com o Ellijah Wood e o Eugene Hutz(vocalista do Gogol Bordello). Ao tratar o holocausto de uma forma completamente não-ortodoxa(baseando-se, de forma completamente surreal, numa experiência própria do autor), o livro versa sobre o comportamento judaico de aplicar os precedentes e conhecimentos criados pelos antepassados na vida cotidiana, de forma que o passado seja aplicado no presente, assim iluminando o futuro.

Se você quer rir, sentir, viver, chorar e se esbaldar de tanta criatividade, procure um caminho alternativo à lista dos mais vendidos das livrarias do país. Procure por Jonathan Safran Foer. Narrativa inteligente, super-criativa e bastante apropriada para o público jovem. Dica do mês, ok.

"À noite ele se realizava: sozinho na magnitude do seu pesar, sozinho com sua culpa difusa, sozinho até na sua solidão. Não estou triste, repetia ele sem parar. Não estou triste. Como se um dia pudesse se convencer disso. Ou se enganar. Ou convencer os outros - a única coisa pior do que ficar triste é deixar os outros descobrirem que você está triste. Não estou triste. Não estou triste. Pois sua vida tinha um potencial ilimitado para a felicidade, exatamente por ser um aposento branco e vazio.

Ele adormecia com o coração ao pé da cama, feito um animal domesticado que não fazia parte dele. E a cada manhã acordava com o coração engaiolado novamente nas costelas, um pouco mais pesado, um pouco mais fraco, mas ainda bombeando. E lá pelo meio da tarde sentia o desejo de estar em outro lugar, de ser outra pessoa, de ser outra pessoa que estivesse em outro lugar. Não estou triste."


(Tudo Se Ilumina)

Thursday, June 10, 2010

"A Lírica do homem máquina"



Finalmente, estreei o visual novo do blog. O que acharam?

O banner foi feito pelo artista Victor Negreiro(http://flk.carbonmade.com/). As influências de filmes de ficção científica como Blade Runner e de Radiohead("Paranoid Android") são bem explícitas.

Novo visual, novas cores, e em breve, novos textos e contos.

Thursday, May 13, 2010

It's the devil's way now. There's no way out.



"Li nos jornais aqui há um certo tempo que alguns professores encontraram uma pesquisa que foi enviada nos anos trinta a algumas escolas públicas do país. Tinha um questionário perguntando quais os principais problemas em dar aulas nas escolas. As respostas eram variadas, alguns dos maiores problemas eram: mascar chicletes, copiar o dever de casa do colega, conversar em sala de aula e correr nos corredores da escola. Coisas desse tipo. Então eles pegaram um formulário em branco com as mesmas perguntas, imprimiram vários e enviaram às mesmas escolas, hoje em dia. Bem, eis que chegam as respostas: estupro, incêndio criminoso, assassinato, drogas e suicídio. Então eu penso sobre isso. Porque boa parte das vezes que eu digo qualquer coisa sobre como o mundo está indo para o inferno, as pessoas dizem que estou ficando velho, e que é sinal da velhice impôr a moral de seu tempo às gerações posteriores. Mas meus sentimentos a esse respeito são que alguém que não saiba a diferença entre estuprar e matar pessoas e mascar chicletes tem um problema muito maior que o meu."

Do livro No Country for Old Men, de Cormac McCarthy.

Talvez seja algo de um indivíduo ficando velho, ou que este seja um pessimista. Paranóico. Psicótico. Não sei. Mas se eu tenho alguma convicção, esta é a de que estamos beirando o colapso. De nervos e entre nós mesmos. De fato, não há como negar que vivemos uma guerra que a sociedade trava com si própria, e que esta se aproxima de um desfecho nada prazeroso. Aqueles que acreditavam no homem ou morreram ou já não sabem o que dizer sobre o que diziam antes. Chegamos ao momento em que os intelectuais, sociólogos, artistas e modernistas do passado nunca previram.

De repente, talvez seja a hora de reconsiderarmos o termo sociedade. Conjunto de pessoas que compartilham propósitos, gostos e costumes? Indivíduos que abdicam de uma liberdade particular ilimitada visando o bem coletivo? Bem, se por compartilhar você diz a seringa de drogas injetáveis e os fluidos corporais advindos do sexo imediato, com o maior número de pessoas possível; e se por "abdicar da liberdade particular ilimitada visando o bem coletivo" você quer dizer leis fortes e rígidas coagindo e punindo o indivíduo que sair da linha, então eu aceito este conceito de sociedade.

Já vivemos numa era em que não há mais o certo e o errado. As pessoas riem diante destes termos. Fomos criados por uma geração de pais que não queriam se tornar pais. Os pais da sociedade industrial competitiva têm que tomar muitos antidepressivos durante a semana e beber muito nos fins de semana para poderem suportar a realidade. Realidade de um trabalho massacrante do qual nem ao menos gostam, conviver com pessoas oportunistas que só querem tomar o seu lugar e mendigar por um tostão para poder sobreviver. É lógico que essa geração, que quando jovem queria mudar o mundo, não queria ter filhos. Quem gostaria de por filhos neste mundo? Eles simplesmente tiveram, e não souberam lidar com este fato. Muitos deram os filhos de presente aos avós, outros jogam os filhos pela janela. Melhor a primeira opção, não? Eu sei, por vivência própria, dos casos de pais que fazem filhos e deixam as mães cuidarem sozinhas. Uma geração de viciados em crack. Assassinos, simplesmente por não terem nada a perder. Depois me dizem que o "sexo casual" é algo inocente e sem consequências. Pouca coisa, só uma geração de adolescentes assassinos drogados que não têm nada a perder por não ter nem ao menos um pai para guiar seus passos iniciais.

Nas propagandas de TV e folhetos religiosos que recebo nas ruas da cidade sempre os anúncios solidários são algo do tipo "Vamos curar seu filho da doença que é o crack", "O crack é um vírus perigoso". Me desculpem, mas o crack ou qualquer outra droga de consumo massivo de hoje em dia não é doença alguma ou vírus. É um sintôma notório, de uma grande infecção generalizada que já estamos vivendo. Jovens morrendo pelo tráfico de drogas? Isto é só o começo! Quem é hipócrita de dizer que durante o carnaval nunca presenciou atos como a prostituição infantil, pedofilia e exploração sexual? Já vi isso tudo de perto, e olhe que me considero uma pessoa bastante reservada, exatamente por não gostar de ver certos tipos de coisa. E todos nós sabemos que essas coisas não duram só a semana de carnaval. Elas se prolongam por todo o ano, e se intensificam, só permanecem escondidas.

Numa cidade do tamanho da que moro, que não passa de um milhão de habitantes, só no verão cerca de 100 jovens menores de idade foram assassinados. E moro numa cidade distante do olho do furacão. Não leia o texto desatentamente. Pense um pouco sobre este dado. Uma centena de adolescentes assasinados. Num verão. Em decorrência do narcotráfico e da violência urbana. E então, o que fazer? Simplesmente nada. Não vou pôr minha alma à premio, abrir a porta da casa, sair e dizer "Ok. Eu vou participar deste mundo". Simplesmente é uma coisa que não estou disposto a fazer.

De repente, todos aqueles intelectuais, artistas, e modernistas(tanto de direita quanto de esquerda) que acreditavam no ser-humano ficaram calados. Ninguém mais sabe o que fazer ou dizer diante de uma situação destas. Ninguém quer pôr sua alma a prêmio, como eu. Não há muito nem no que pensar quando estamos no meio de uma sociedade que progride financeiramente e tecnologicamente, e de outro lado os índices de assassinatos, estupros, suicídios e uso de drogas chegam a números que já passaram há muito do "alarmante". Mas o que são alguns quilos de carne humana esmagados diante de toneladas de concreto da selva de pedra que é a grande metrópole? Absolutamente nada.

É. O pior de tudo isso é que realmente não podemos nem chegar a alguma conclusão. Quando me perguntam ou quando eu me pergunto o que anda acontecendo com o mundo, com nossos pais, com nossos irmãos e com nossos filhos, eu respondo que não sei. E eu realmente não sei. Só sei que quando vemos acontecer algumas das coisas que citei aqui neste desabafo, só pode ser o presságio de que algo muito ruim está prestes a ocorrer.

Eu já cheguei a pensar que se um dia nós compreendêssemos a existência(ou a não-existência) de Deus, como um todo, as coisas ficariam mais claras para nós. Mas hoje eu vejo que Deus existir ou não pouco explica nossas origens e nosso comportamento. Em contrapartida, muito do que somos e do que fazemos só pode ser compreendido pela existência de um satanás tomando as rédeas do poder. Só isso poderia explicar.

"Acho que se você fosse Satã e estivesse pensando em alguma coisa para colocar a humanidade de joelhos, você provavelmente decidiria pelos narcóticos. E talvez ele tenha feito isso. Eu disse isso outro dia a alguém no café da manhã e me perguntaram se eu acreditava em Satã. Eu disse: Bem, a questão não é essa. Eu sei mas você acredita? Tive que pensar a respeito. Quando eu era garoto, acreditava, já na meia idade a minha crença tinha diminuído. Agora estou pendendo no mesmo sentido. Ele explica um monte de coisas que de outro modo não teriam explicação. Ao menos para mim não tem."

Novamente do livro No Country for Old Men, do brilhante Cormac McCarthy.

It's the devil's way now. There's no way out.
You can scream, you can shout. It's too late now.

Thursday, April 29, 2010

Um belo acidente


"O acaso é o maior romancista do mundo; para se encantar, basta estudá-lo." (Honoré de Balzac)






“Olha lá pra ela. Tão linda! Sabe, eu acho que é por causa de algo assim que talvez Deus exista”. Ela me disse isso, enquanto eu ainda ajeitava minha posição pra deitar no jardim sem que doesse tanto no meu cóccix.

A Lua? Você acha que Deus existe por causa da Lua? Se fosse para acreditar em Deus, eu escolheria algumas outras coisas mais legais para comprovar que Ele existe, sei lá... algo tipo o fenômeno inexplicável da vida na Terra; as ações movidas por sentimento de bondade e carinho; Scarlett Johansson. Respondi isso, com cinismo e rindo. “Não, se Ele existir... acho que é por causa da Lua”. Tá. Por quê?


- Pensa bem. Deus criou um monte de coisas bonitas e legais que a gente fica admirando que nem babaca, tipo os rituais de acasalamento das baleias. Beleza, é fantástico, mas... a coisa mais bonita, glamurosa, brilhante e que chama atenção Ele pôs lá em cima, sobre todos nós, para ser objeto de adoração. E ela não é adorável? Principalmente hoje, que é lua cheia. Fica brilhando sozinha, sem mais nada por perto, e a gente fica admirando que nem babaca ao quadrado. Tipo... o sol, o sol não é adorável. Quando ele não aparece, todo mundo reclama do frio; quando ele aparece, reclamam do calor. Por mais que ele seja vital à nossa existência e vida na Terra, não é adorável. Porra, nem dá pra olhar diretamente para ele que os olhos começam a arder. Mas todos nós adoramos a lua. Ou pelo menos aqueles que param para deitar sobre o jardim, olham para o céu e ficam falando da vida, que nem nós.


- Caralho. Você daria um ótimo padre. Sério. Quase deixo de ser ateu agora.


- Há! Você mesmo reconhece que eu sempre venço nossas discussões.


- É, eu tenho complexo de inferioridade em relação a você... mas... sabe o que eu acho mesmo bonito da lua? De verdade?


- Só não diz São Jorge matando o Dragão.


- Não. The Dark Side of The Moon.


- Pink Floyd? Você acha a lua bonita por causa do Pink Floyd? Bom... sendo assim, prefiro dizer que ela é bonita por causa do The Wall, que é o melhor cd deles, de longe.


- Não, tapada. Pra início de conversa você só prefere o The Wall porque tem um filme explicando a obra, e o The Dark Side of The Moon é complexo demais para você. Mas o que eu quis dizer é que, ok, a lua é bonita, e todos nós achamos isso. Só que desvendar por meio de observações e da imaginação como é o lado escuro da lua, aquele que a gente não vê é algo realmente fantástico. É o nosso instinto humano que não aceita as informações simplesmente como nos são dadas e faz com que busquemos as respostas fundamentais para tudo. Em vez de admirar a beleza do lado lunar que todo mundo conhece, prefiro imaginar ou desvendar como é o lado que a gente não consegue enxergar a olho nu. É bonito porque é uma metáfora. Afinal, você nunca se perguntou o sentido da vida, da sua existência e tudo o mais?


- Quarenta e dois, ela disse, imitando o meu cinismo.


Eu ri. E senti uma breve intensa sensação de felicidade por ter uma namorada que conhecesse as bobagens maravilhosas da mitologia nerd tanto quanto eu. “Você não é tão inteligente para desvendar essas coisas sozinho”, ela me disse. Eu não preciso, em 1959 uma sonda espacial soviética tirou uma foto do lado negro da lua, retruquei. “Não é isso... você é um ser-humano, existem coisas além da sua compreensão no universo. Seu cérebro é limitado demais para pensar em uns lances loucos que dêem razão à nossa existência. Limite-se a focar seu cérebro já debilitado para a próxima prova da faculdade, é mais sensato”. Adoro o jeito como ela me faz sentir especial.


- Mas eu não posso evitar, é instinto meu. O darwinismo e o evolucionismo explicam. De acordo com a idéia da seleção natural, em qualquer população de organismos que se auto-reproduzem, haverá variações no material genético de cada indivíduo e na vivência deles. Estas diferenças fazem com que alguns indivíduos sejam mais aptos que outros a tirar conclusões corretas sobre o mundo ao seu redor e agir de acordo com isso. E esse padrão de comportamento e raciocínio é o que vai imperar na geração posterior. De qualquer forma, talvez eu seja pré-determinado biologicamente e fenotipicamente a estabelecer os padrões de pensamento e comportamento dos nossos descendentes.


- Sei.


- Pode falar “sei”, mas a humanidade precisa de pessoas como eu, isso é um fato. No mínimo nossos descendentes.


- Vem cá, você já ta falando em ter filhos? Você não tem nem emprego nem...


- Não to falando disso, garota chata. To falando de pensar além. Além do simples, do que é somente nos mostrado e dito. É aquela sensação de se perguntar aonde estamos indo, de onde viemos. Ou simplesmente de quando você sai pra alguma festa chata e se quetiona “qual o motivo de eu ter vindo aqui?”. Você tem que ter esses pensamentos... mesmo que não chegue a resposta alguma.


- Pensar demais como você faz não adianta de nada. Muito provavelmente não estamos indo a lugar nenhum e nem viemos de lugar algum. E eu não acho que a evolução da humanidade esteja baseada em perguntas que nem respostas têm. Você não precisa carregar um peso enorme nas costas só por carregar.


- Todos nós temos que estar chegando em algum lugar. Quando comecei a jogar Super Mario Bros, eu tinha que estar passando as fases, uma por uma, até zerar. Quando eu comecei a torcer pela seleção brasileira, ela tinha que ganhar todos os jogos das eliminatórias, se classificar para a Copa do Mundo, passar da primeira fase, ganhar o mata-mata, chegar à final e vencer. Todos nós temos que estar chegando a algum lugar.


- Mas e se nós nunca saímos de lugar algum, temos que estar necessariamente chegando em um outro? Você nem sabe de onde veio. Você nem sabe o estágio inicial da porra toda. É o Princípio da Incerteza de Heisenberg, meu querido. Por causa dele, nós não podemos chegar à nenhuma decisão concreta, já que não é conhecido consistentemente o estágio início do universo. Até os físicos já admitiram. Até porque eu li isso no livro do Stephen Hawking. O Princípio da Incerteza impede a Física de ter uma teoria unificada sobre o universo, fica sempre nas brigas entre as teorias da mecânica quântica e da teoria da relatividade geral de Einstein.


Fiquei calado. E ela começou a cantarolar Across The Universe, dos Beatles. "Thoughts meander like a restless wind inside a letter box. They tumble blindly as they make their way across the universe". Pensamentos se movem como um vento incansável dentro de uma caixa de correio. Eles tropeçam cegamente enquanto fazem seu caminho pelo universo.



- Quando eu disse “quarenta e dois” não era brincando. Vai ver o Douglas Adams estava certo mesmo. Se alguém souber o motivo pelo qual estamos aqui e os porquês da nossa existência, o universo explode e um novo é reconstruído. Um novo universo cheio de dúvidas e incertezas para ocupar a mente dos que vivem nele.


- É, 42 é a resposta para tudo mesmo então. É confuso.


- É confuso porque é uma resposta para qual não sabemos nem a pergunta. Não acho, como você disse, que o fascinante são as perguntas que não possuem respostas, e sim as respostas para as quais nem perguntas existem. Você não precisa saber de tudo. Você não precisa ser o indivíduo que vai geral o padrão de pensamento da próxima geração. Você precisa simplesmente ser. E ponto final. Não pense tanto...


- Então é isso que somos. Respostas confusas para perguntas que nem sequer existem.


- Mutilou a mosca. Acidentes. É isso que somos.



Fiquei calado pensando naquilo e me sentindo plenamente impotente. A única coisa na minha vida que tinha sentido, que eu achava que tinha nascido para fazer, agora não fazia mais sentido nenhum: pensar ilimitadamente. Achar respostas.

E o silenciou imperou naquele jardim por uns 28 minutos, até que ela disse “Aaaah, agora entendi aquela música do Radiohead que você me mostrou uns tempos atrás. Sempre ficava pensando numa citação que tem nela”. Que música? “There There”. O que tem “There There”?


- No fim da música, o cara fica repetindo várias vezes “We are accidents waiting to happen”. Nós somos acidentes esperando para acontecer. É isto.


- É faz sentido. Já que pelo visto todos nós e todo o resto das coisas são só frutos do acaso. Mera aleatoriedade.


“Que lindo”, ela me disse rindo. Com a aparência de quem estava se divertindo como uma criança desenhando com lápis-de-cor pela primeira vez na vida. Eu acho que nunca a amei tanto quanto hoje.


- Sabe, culpar o acaso por tudo, dar à aleatoriedade o sentido absoluto das coisas, tudo isso... não tornam nosso relacionamento mais romântico, sabe? Tira toda a parte pré-destinada da coisa. Aqueles lances que todas as garotas gostam. De que nosso relacionamento seria obra do destino. Que estaríamos fadados a viver juntos para sempre. Isso tudo desmoronou. Qualquer golpe de azar oriundo de forças externas desconhecidas e aleatórias pode nos separar agora. Não me sinto alegre com isso, como você.


“Pois deveria! Se fosse pelo destino que estivéssemos juntos, eu namoraria com você por uma simples obrigação metafísica”, ela riu. Não achei graça. Não tem graça, eu falei.


- No meio de tantos acontecimentos simultâneos, num mundo que é obra da incerteza, você, meio que como um milagre, veio a mim e me cativou. Minha vida poderia estar acontecendo de várias outras maneiras, mas ela orbita ao seu redor. De todas as inúmeras formas de algo acontecer, nós acontecemos. Um belo acidente. Deste jeito é muito mais bonito. Não estava escrito nas estrelas, e aconteceu, como tinha de acontecer. E agora que você já me cativou, se tornou eternamente responsável por mim.


É. Eu nunca a amei tanto quanto hoje.



Obras citadas que me ajudaram a divagar, por meio da cultura pop, sobre a existência(só pra provar que não plagiei ninguém, to dizendo logo no que me inspirei):


Uma Nova História do Tempo - Stephen Hawking

O Guia do Mochileiro das Galáxias - Douglas Adams

O Pequeno Príncipe - Antoine de Saint-Exupéry

Pink Floyd - The Dark Side of The Moon; The Wall

Radiohead - There There(do álbum Hail to The Thief)

The Beatles - Across The Universe

Super Mario Bros. É




Jair Filho.

Saturday, April 03, 2010

A voz que clama no deserto.


Bem, esta é a semana santa. Mesmo eu sendo ateu, há duas passagens na bíblia que eu gostaria de compartilhar, pois acho que entra em convergência com a idéia deste blog. Isso tudo porque, claro, é MUITO legal brincar de messias. Acho que terei uma vida curta mais minhas palavras não.

“Eu sou a Voz do que clama no deserto: preparai o caminho do Senhor; endireitai as suas veredas. Todo o vale se encherá e se abaixará todo o monte e o outeiro; e os caminhos escabrosos se aplanarão; e toda a carne verá a salvação de Deus.” Lucas 3:4 , “Assim será a palavra que sair da minha boca: ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz e prosperá naquilo para que a enviei. Porque com alegria saireis, e em paz sereis guiados; os montes e os outeiros exclamarão de prazer perante a vossa face, e todas a árvores do campo baterão palmas. Em lugar do espinheiro crescerá a faia, e em lugar da sarça crescerá a murta: o que será para o Senhor por nome, por sinal eterno, que nunca se apagará.” Isaías 55:10-13

Não estou dizendo diretamente que sou a voz que clama no deserto e que minhas palavras hoje desvalorizadas guiarão os indivíduos num futuro próximo neste mundo em chamas, são só passagens que estimulam qualquer um a continuar escrevendo. Pois o homem que mais influenciou no pensamento de nossa civilização já se viu professar palavras que ninguém ouvia(mesmo estas palavras tendo sido corrompidas pelo homem e usadas com violência como método e alienação como objetivo).

Soa pretensioso? Não soa. É PRETENSIOSO.

Ah, e quem adivinhar do que se trata a mensagem escondida por trás do novo visual do blog ganha um parabéns.

Saturday, March 27, 2010

Ame-me morto.


Assistindo ao fantástico novo filme do Martin Scorsese ontem, "Ilha do Medo", me deparei com uma reflexão do personagem principal, ao fim do longa, que dizia "neste mundo em que vivemos, o que seria pior: viver como um monstro ou morrer como um homem bom?". Realmente, aquilo me intrigou. Deixando a análise do ótimo filme de lado, sempre me fascinou a maneira como as pessoas lidam com a morte, a própria e a dos outros.

É interessante ver como é tratada a imagem das pessoas depois que elas morrem. Creio que todos se ajoelham diante disto por ser nosso destino inevitável. Mas é fato que todas as imperfeições e esquisitices são esquecidas para ser evidenciado somente as virtudes de quem está no caixão, na hora do funeral. As pessoas, parece, só demonstram respeito pelo outro quando percebemos, através da morte deste, a nossa terrível condição. Uma amostra disso é que é incontável o número de artistas que tiveram suas obras reconhecidas e aclamadas somente após uma morte chamativa. No ano passado o número de pessoas que admirava o Michael Jackson aumentou em dez vezes, e quase não foi posto em evidência todas as suas bizarrices e pontos macabros de sua vida. E falando em Rock N' Roll, quantas bandas não fizeram seu nome na história da música só após a morte de um vocalista após suicídio ou overdose? Vamos lá, concordem comigo, Nirvana não foi tão marcante assim, era só mais uma banda de Seattle no movimento grunge dos 90's; e o Joy Division antes do suicídio do Ian Curtis tinha que relevância? Quase nenhuma.

Pessoalmente, eu sempre achei que estaria melhor morto. Até daria para aumentar a fama das minhas escritas aqui no blog, não é?(só por favor, se querem me demonstrar respeito, façam isso enquanto eu estou vivo). Mas o que quero dizer é que a morte muitas vezes parece um suspiro de alívio diante do mundo caótico em que vivemos hoje. Você já pensou no quão agradável seria estar lobotomizado e não ter consciência nenhuma das coisas do nosso cotidiano? Eu já. Como vi num filme de Woody Allen: O Coronel Kurtz disse "O horror, o horror" para definir o mundo em que vivia, no livro Coração das Trevas, de Joseph Conrad; bem se ele achava o mundo um horror, imagina se entregassem jornais na ilha que o coronel estava lá isolado! Aí ele veria nas manchetes pais atirando seus filhos das janelas, terremotos e maremotos devastando cidades e matando milhares, pessoas se acabando em drogas e sendo adoradas por isto, e ainda de sobremesa comentários sobre o Big Brother Brasil. Ah, como agradáveis seriam os prazeres da não-consciência!

Pois é, e ainda me atendo à pergunta inicial do texto, que vi no filme; só me parece uma ironia que eu somente consiga alcançar todo o reconhecimento e aprovação que sempre busquei, sem sucesso, em vida com a iminência da morte. Mas morrer com a dignidade de um homem bom é sim algo bem menos ruim do que viver como um monstro nesse horror de mundo.

[Off: Esclarescendo tudo, à pedidos, este texto não é nenhuma carta-testamento, pessoal, ou glamourização do suicídio. Quem assistiu ao filme que eu citei, Ilha do Medo, certamente entendeu perfeitamente o que quis dizer. Só escrevi algo partindo da escolha paradoxal que é escolher viver como um ser totalmente imperfeito num mundo cruel ou morrer porém ser reconhecido como um homem bom(exemplo do Michael Jackson). E, claro, divaguei sobre outro tema do filme, a Lobotomia, e sua consequente "não-consciência" ao mundo exterior, que ao meu ver, tiraria muito da angústia e do desespero da vida. Enfim... não devia estar esclarescendo nada de nenhum texto meu, o problema é que o povo lê e pensa que vou me matar].

Sunday, March 21, 2010

in rainbows.


Enfim, já faz um ano daquele que foi o melhor dia da minha vida, o apoteótico show do Radiohead no Brasil. Louco, o tempo passou rápido demais. Para completar o momento nostalgia, aqui vai o link do texto que escrevi sobre o show em São Paulo: http://futurismoparanoide.blogspot.com/2009/03/uma-semana-em-arco-iris.html

Tuesday, March 09, 2010

Ironia e Ceticismo em 140 caracteres.


Olá, pessoas que acompanham meu querido blog.
Estou sem muita inspiração para textos novos, ando tão pra baixo...
Aproveito também o momento mais informal para agradecer aos recentes elogios que recebi pelo blog, pessoas falando bem dos textos, e até me recomendando investir na carreira de escritor. Só tenho a agradecer, e uma novidade: esse ano sai uma coletânea de textos num livrinho sob encomenda. Vou deixar todo mundo informado, mas é um projeto um pouco mais para o futuro.

E me rendi ao twitter, sad. Meus raciocínios também estarão lá, mas de maneira bem superificial e curta. Ironia e Ceticismo em 140 caracteres; se quiser me acompanhar: www.twitter.com/jairthemessiah

Em breve estarei postando aqui dois contos que já tenho em mente.

Vida longa e próspera.

Wednesday, February 03, 2010

House: contra-indicado nos casos de desequilíbrio mental e emocional.


Com certeza, "House, M.D." é uma das séries mais bem feitas da história da televisão; o que é comprovado pela grande popularidade ao redor do planeta e um enorme acervo de premiações adquiridas. A série sobre o setor de diagnóstico médico chefiado pelo Dr. Gregory House do hospital universitário de Princeton me fez virar várias madrugadas dessas férias. Assisti aos episódios, com suporte de canecas de café, e não conseguia parar. Entretenimento do bom, mas com efeitos colaterais.

Desde que passei a acompanhar a série médica, desenvolvi sinais hipocondria e neuras que antes julgava irracionais. Como se não bastasse isso, após alguns poucos episódios perturbadores, surgiram pesadelos envolvendo vermes, queimaduras, sangramentos e bebês morrendo(não foram alucinações, só casos isolados, calma); e reflexões ainda mais céticas sobre a morte.

O motivo das neuras e do terror noturno é simples. Depois de assistir massivamente aos episódios com os desenrolares médico-científicos da série, primeiro você adquire a visão niilista básica que nós, seres vivos, não passamos de combinações complexas de carbono e água, e que tudo que fazemos não passa de uma reação do corpo humano a um certo estímulo ou instino natural - ter a noção exata do quão vulnerável é a nossa vida e da miserabilidade da condição humana nunca é saudável, acredite. Some a isto os "ensinamentos" nada benéficos do Doutor House, altas doses de ceticismo e misantropia. Um personagem que repudia a interação humana, por acreditar que compromete o raciocínio e a lógica e por ter certeza de que todos, sem exceção, mentem.

"Nossos corpos apodrecem. Podemos estar com 70 anos ou sermos bebês. Decomposição, vermes... a morte nunca é bonita! Você pode até viver com dignidade, mas não morrer com ela". É o que diz Dr. House a um freira que deseja voltar para o convento alegando o desejo de morrer com dignidade. Só a nível de exemplo.

Mas assista House! A série é incrivelmente bem feita e até engraçada! E faz enorme sucesso. O problema comigo é que, enquanto todos assistem um episódio, no máximo dois, por semana na televisão, vi cerca de trinta numa semana. E como dizem: a diferença entre o remédio e o veneno é a quantidade.

Sunday, January 17, 2010

Rock N' Roll is (almost) dead. And that's not necessairily bad.


"O Rock N' Roll está (quase) morto. E isto não é necessariamente ruim"

Bem, a década acabou, e sendo assim, já pode-se analisar os anos 2000 de fora, e por completo. Hoje, falaremos sobre a música da década, mais especificamente, sobre o rock dos anos zero-zero.
O que se pode dizer como introdução sobre isto é que, assim como em todo o resto das coisas, em que, nos últimos anos, todas as bandeiras e ideologias do passado têm sofrido uma queda livre no nosso mundo pós-moderno, não foi diferente no Rock. Muitas barreiras foram quebradas e o velho mantra sempre repetido pelas bandas antigas do "Sexo, Drogas e Rock N' Roll" realmente foi pro saco; com exceção de algumas bandas que conservam o velho espírito dos anos 70(principalmente advindas da Suécia), o que se viu nessa década foi totalmente diferente, tivemos uma mega-banda com quase vinte membros e cada um com um instrumento mais peculiar que o outro, tivemos bandas de um homem só, outras que deixaram a guitarra como instrumento secundário e até outras que faziam rock e se intitulavam "antirrock"(?). Isso é só o início, já que vimos também um distanciamento enorme do rock diante da indústria fonográfica, causado pelo império do download, o que trouxe uma liberdade artística muito maior ao estilo. Mas... vamos por partes.

"A banda que vai salvar o rock n' roll". Isso foi repetido pela mídia várias e várias vezes, já que o que reinava no fim dos anos 90 era basicamente um bocado de bandas americanas rotuladas como new-metal, e faziam um som horrível, que misturavam guitarras distorcidas demais, letras sobre ódio(que inspiravam massacres nas escolas americanas, como em Columbine) e DJ's que deixavam as canções ainda mais intragáveis. Com certeza o cenário formado por Korn, Slipknot, Marilyn Manson, Limp Bizkit e etc foi o pior já visto na história. Foi então, no início dos anos 2000, que surgiu o The Strokes, banda nova-iorquina que apresentou o cd Is This It?, propondo um retorno às origens do rock, sonora e visualmente. As músicas pareciam ter sido retiradas dos anos 60, até mesmo o vocal abafado de Julian Casablancas; assim como o visual, com os membros usando terno e gravada, assim como os Beatles e os Stones em início de carreira. Foi simplesmente genial. Sou um grande fã do Is This It?, e este foi um dos melhores acontecimentos musicais que tive notícia. Logo depois surgiram o rock dançante dos escocêses Franz Ferdinand, a idiotice absurda do The Libertines(que tinha um vocalista junkie, e fazia besteiras como ser preso e roubar a casa do companheiro compositor Carl Barat - prato cheio para os tablóides ingleses, garantindo assim uma injusta fama, visto que a banda é incrivelmente ruim), e outra boa surpresa foi o Arctic Monkeys, mais outra banda dançante da Inglaterra, mas desta vez com letras bastante inteligentes. Além dos Strokes, Nova York também nos deu o Interpol, oferecendo uma releitura do post-punk dos anos 80 e o Yeah Yeah Yeahs, indo na onda do rock dançante e bem humorado; e na minha lista de favoritos dentre estas bandas que tiveram atenção da mídia foi o Klaxons, com seu visual e letras futuristas, misturando ficção científica e psicodelia(e cores demais).

No Brasil não foi diferente. Antes mesmo dos Strokes e seu visual/som retrô aparecerem, a banda gaúcha Cachorro Grande já chamava atenção com os mesmos atributos - pareciam ter sido retirado dos 60's. E assim como no cenário internacional reinava o indie, daqui exportamos o CSS(Cansei de Ser Sexy), com o mesmo som dançante e visual colorido dos ingleses.

Nem tudo foi só hype e pista de dança com rocks moderninhos. Fora da atenção dos jornais londrinos, várias outras coisas se destacaram. Com certeza, entre os mais cultuados estão os americanos do Queens of The Stone Age e The Mars Volta. Essas duas são poucas das bandas de hoje que serão lembradas no futuro. Outra que merece destaque é o The Arcade Fire, com nove integrantes, e produzindo seu rock erudito com canções de beleza ímpar. Outra dica minha são os dois cds lançados pelos australianos do Wolfmother, para quem gosta mesmo de guitarra alta. À parte disto, no cenário inglês, e com popularidade imensa, está o ótimo Muse, cujo único defeito é a mania de grandeza excessiva do vocalista Matthew Bellamy.

Em parte, muito dessa histeria da mídia de buscar a salvação do rock foi causada por alguns fatores específicos: o declínio bastante notável do Oasis, que passado seu auge brilhante nos anos 90, lançou albuns realmente carentes de qualidade e muito repetitivos, o que os levou ao fim da carreira, de maneira melancólica, em 2009; o hiato do Blur, com a saída de Graham Coxon; e o isolamento do Radiohead, a banda que lançou o Ok Computer em 1997, causando furor por este ser um dos melhores albuns da história do rock. O Radiohead se viu exposto à mídia e ao sucesso, coisa que o perturbado Thom Yorke nunca soube lidar. Logo, com isto, a banda lançou Kid A(2000) e Amnesiac(2001), albuns experimentais que visavam claramente distanciar o Radiohead do sucesso e prezavam bem mais por sintetizadores e piano do quê pela guitarra - mas isto só fez aumentar o culto dos fãs ao Radiohead e ao próprio Yorke, que tem sido considerado um messias do século XXI, com suas composições pessimistas sobre o futuro e atuando como um dos poucos idealistas restantes nesta era. Logo depois vieram, deles, a genial crítica políitica Hail To The Thief(2003) - album que rompeu o isolamento da banda, e In Rainbows(2007) - que, lançado diretamente para download sobre o estilo inédito de venda em que o comprante paga o quanto quiser, demonstrou que a Era do Download veio para ficar. Enfim, você pode até não entender o Radiohead e seu futurismo-pessimista-psicodélico-depressivo, e eu posso até só fingir que entendo, mas com certeza as próximas gerações deste mundo cada vez mais caótico entenderão perfeitamente.

Do lado pop no rock, o que se viu até transbordar foi o Coldplay, novamente da Inglaterra, que parece estar no lugar dos Beatles da atualidade no tocante à popularidade. Canções belas e cheias de melodia que fazem até o público americano esquecer, às vezes, os rappers que só cantam sobre limusines, dinheiro, gangues e prostitutas, para ouvir música boa. Na categoria "adolescente" do rock, estavam o Linkin Park e o Paramore, ignoradas pela imprensa por serem populares demais entre este público. Subestimadas.

Ah... e se houve alguma mudança drástica no Rock dos anos 2000, esta foi em relação à vestimenta. Esqueçam os roqueiros desleixados e sujos com roupas folgadas, como era comum no grunge e ainda é no metal. O roqueiro desta década que passou se veste impecavelmente. É cheio de baboseira na hora de escolher o visual antes de entrar no palco, ou antes de ir ao show de sua banda favorita. Ternos, sapatos italianos... ou roupas coloridas e penteados bem cool e modernos.
Dói até na vista.

Querendo ou não, o que aconteceu no rock dos anos 2000 foi isto. Se o esqueleto do Jimi Hendrix tá se remexendo no caixão, bom... disso eu não sei. Porém, bandas que rezem na cartilha do rock n' roll old-school no maior estilo sex, drugs and rock n' roll ainda existem. Aqui no Brasil mesmo, com uma nova banda que se tornou uma das grandes surpresas no circuito, o Black Drawing Chalks, vindos de Goiânia, cidade com forte cenário do rock.

No geral foi isto que aconteceu. Com certeza devo ter esquecido alguma banda notável ou algum outro fato interessante, mas se eu esqueci é porque não é tão bom assim. (:

Wednesday, January 13, 2010

O aflorescer da década



Para começar bem o ano: Numa década com apenas 13 dias de existência, cerca de 150 brasileiros(14 deles estando no Haiti - tragédia que causou a morte de dezenas de milhares de pessoas) já morreram em decorrência dos desastres ambientais recentes. Principalmente por causa das catástrofes causadas pela chuva nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul, além do terremoto em Porto Príncipe, capital do Haiti; dentre as vítimas encontra-se a pediatra Zilda Arns, ex-indicada ao Prêmio Nobel da Paz.

Os desastres da natureza deste início de ano já causaram um prejuízo de, no mínimo 1 bilhão de reais, economicamente. Isto sem falar na destruição quase que total da cidade de São Luiz do Paraitinga, município de São Paulo que é considerado Patrimônio Histórico.


O início da década já mostra o que está por vir. Os anos dos 2010's serão catastróficos, com certeza. Podem ser o início do fim. Ou esta década se torna o marco zero da economia sustentável ou ficará conhecida como o início de uma crise sem precedentes na história da humanidade.


Bem... do jeito que os líderes mundiais estão levando o assunto a sério, vide resolução da Conferência do Clima de Copenhagen, muito mais fácil estarmos adentrando na era em que tudo que o ser-humano construiu, de bom ou de ruim, transfomar-se-á apenas em ruínas de um passado que hoje nós tanto contemplamos e chamamos de "presente": O mundo moderno.


"Tente salvar isto, mas não sai do buraco.
Tente construir uma muralha alta o suficiente.
Está tudo evaporando, tudo evaporando.

Tente salvar sua casa, seus discos;
Tente subir a colina! Mas vai te perseguir até aí em cima...

Está tudo evaporando, está tudo evaporando..."

Thom Yorke - Cymbal Rush

http://www.youtube.com/watch?v=-4hZt--0Yno