Thursday, May 13, 2010

It's the devil's way now. There's no way out.



"Li nos jornais aqui há um certo tempo que alguns professores encontraram uma pesquisa que foi enviada nos anos trinta a algumas escolas públicas do país. Tinha um questionário perguntando quais os principais problemas em dar aulas nas escolas. As respostas eram variadas, alguns dos maiores problemas eram: mascar chicletes, copiar o dever de casa do colega, conversar em sala de aula e correr nos corredores da escola. Coisas desse tipo. Então eles pegaram um formulário em branco com as mesmas perguntas, imprimiram vários e enviaram às mesmas escolas, hoje em dia. Bem, eis que chegam as respostas: estupro, incêndio criminoso, assassinato, drogas e suicídio. Então eu penso sobre isso. Porque boa parte das vezes que eu digo qualquer coisa sobre como o mundo está indo para o inferno, as pessoas dizem que estou ficando velho, e que é sinal da velhice impôr a moral de seu tempo às gerações posteriores. Mas meus sentimentos a esse respeito são que alguém que não saiba a diferença entre estuprar e matar pessoas e mascar chicletes tem um problema muito maior que o meu."

Do livro No Country for Old Men, de Cormac McCarthy.

Talvez seja algo de um indivíduo ficando velho, ou que este seja um pessimista. Paranóico. Psicótico. Não sei. Mas se eu tenho alguma convicção, esta é a de que estamos beirando o colapso. De nervos e entre nós mesmos. De fato, não há como negar que vivemos uma guerra que a sociedade trava com si própria, e que esta se aproxima de um desfecho nada prazeroso. Aqueles que acreditavam no homem ou morreram ou já não sabem o que dizer sobre o que diziam antes. Chegamos ao momento em que os intelectuais, sociólogos, artistas e modernistas do passado nunca previram.

De repente, talvez seja a hora de reconsiderarmos o termo sociedade. Conjunto de pessoas que compartilham propósitos, gostos e costumes? Indivíduos que abdicam de uma liberdade particular ilimitada visando o bem coletivo? Bem, se por compartilhar você diz a seringa de drogas injetáveis e os fluidos corporais advindos do sexo imediato, com o maior número de pessoas possível; e se por "abdicar da liberdade particular ilimitada visando o bem coletivo" você quer dizer leis fortes e rígidas coagindo e punindo o indivíduo que sair da linha, então eu aceito este conceito de sociedade.

Já vivemos numa era em que não há mais o certo e o errado. As pessoas riem diante destes termos. Fomos criados por uma geração de pais que não queriam se tornar pais. Os pais da sociedade industrial competitiva têm que tomar muitos antidepressivos durante a semana e beber muito nos fins de semana para poderem suportar a realidade. Realidade de um trabalho massacrante do qual nem ao menos gostam, conviver com pessoas oportunistas que só querem tomar o seu lugar e mendigar por um tostão para poder sobreviver. É lógico que essa geração, que quando jovem queria mudar o mundo, não queria ter filhos. Quem gostaria de por filhos neste mundo? Eles simplesmente tiveram, e não souberam lidar com este fato. Muitos deram os filhos de presente aos avós, outros jogam os filhos pela janela. Melhor a primeira opção, não? Eu sei, por vivência própria, dos casos de pais que fazem filhos e deixam as mães cuidarem sozinhas. Uma geração de viciados em crack. Assassinos, simplesmente por não terem nada a perder. Depois me dizem que o "sexo casual" é algo inocente e sem consequências. Pouca coisa, só uma geração de adolescentes assassinos drogados que não têm nada a perder por não ter nem ao menos um pai para guiar seus passos iniciais.

Nas propagandas de TV e folhetos religiosos que recebo nas ruas da cidade sempre os anúncios solidários são algo do tipo "Vamos curar seu filho da doença que é o crack", "O crack é um vírus perigoso". Me desculpem, mas o crack ou qualquer outra droga de consumo massivo de hoje em dia não é doença alguma ou vírus. É um sintôma notório, de uma grande infecção generalizada que já estamos vivendo. Jovens morrendo pelo tráfico de drogas? Isto é só o começo! Quem é hipócrita de dizer que durante o carnaval nunca presenciou atos como a prostituição infantil, pedofilia e exploração sexual? Já vi isso tudo de perto, e olhe que me considero uma pessoa bastante reservada, exatamente por não gostar de ver certos tipos de coisa. E todos nós sabemos que essas coisas não duram só a semana de carnaval. Elas se prolongam por todo o ano, e se intensificam, só permanecem escondidas.

Numa cidade do tamanho da que moro, que não passa de um milhão de habitantes, só no verão cerca de 100 jovens menores de idade foram assassinados. E moro numa cidade distante do olho do furacão. Não leia o texto desatentamente. Pense um pouco sobre este dado. Uma centena de adolescentes assasinados. Num verão. Em decorrência do narcotráfico e da violência urbana. E então, o que fazer? Simplesmente nada. Não vou pôr minha alma à premio, abrir a porta da casa, sair e dizer "Ok. Eu vou participar deste mundo". Simplesmente é uma coisa que não estou disposto a fazer.

De repente, todos aqueles intelectuais, artistas, e modernistas(tanto de direita quanto de esquerda) que acreditavam no ser-humano ficaram calados. Ninguém mais sabe o que fazer ou dizer diante de uma situação destas. Ninguém quer pôr sua alma a prêmio, como eu. Não há muito nem no que pensar quando estamos no meio de uma sociedade que progride financeiramente e tecnologicamente, e de outro lado os índices de assassinatos, estupros, suicídios e uso de drogas chegam a números que já passaram há muito do "alarmante". Mas o que são alguns quilos de carne humana esmagados diante de toneladas de concreto da selva de pedra que é a grande metrópole? Absolutamente nada.

É. O pior de tudo isso é que realmente não podemos nem chegar a alguma conclusão. Quando me perguntam ou quando eu me pergunto o que anda acontecendo com o mundo, com nossos pais, com nossos irmãos e com nossos filhos, eu respondo que não sei. E eu realmente não sei. Só sei que quando vemos acontecer algumas das coisas que citei aqui neste desabafo, só pode ser o presságio de que algo muito ruim está prestes a ocorrer.

Eu já cheguei a pensar que se um dia nós compreendêssemos a existência(ou a não-existência) de Deus, como um todo, as coisas ficariam mais claras para nós. Mas hoje eu vejo que Deus existir ou não pouco explica nossas origens e nosso comportamento. Em contrapartida, muito do que somos e do que fazemos só pode ser compreendido pela existência de um satanás tomando as rédeas do poder. Só isso poderia explicar.

"Acho que se você fosse Satã e estivesse pensando em alguma coisa para colocar a humanidade de joelhos, você provavelmente decidiria pelos narcóticos. E talvez ele tenha feito isso. Eu disse isso outro dia a alguém no café da manhã e me perguntaram se eu acreditava em Satã. Eu disse: Bem, a questão não é essa. Eu sei mas você acredita? Tive que pensar a respeito. Quando eu era garoto, acreditava, já na meia idade a minha crença tinha diminuído. Agora estou pendendo no mesmo sentido. Ele explica um monte de coisas que de outro modo não teriam explicação. Ao menos para mim não tem."

Novamente do livro No Country for Old Men, do brilhante Cormac McCarthy.

It's the devil's way now. There's no way out.
You can scream, you can shout. It's too late now.