Friday, May 29, 2009

A era da fortaleza subterrânea de solidão.


Vamos falar um pouco de filosofia.

Estoicismo, Cinismo e Niilismo. Três doutrinas filosóficas que procuro seguir religiosamente, com o intuito de me situar no lugar em que verdadeiramente pertenço: o ser. Não algo leviano e externo à isso. Antes, uma breve introdução dos três conceitos.

O estoicismo propõe ao indivíduo viver de acordo com a lei racional da natureza e aconselha a indiferença (apathea) em relação a tudo que é externo ao ser, evitando os possíveis e futuros males e agruras da vida. O homem sábio obedece à lei natural reconhecendo-se como uma peça na grande ordem e propósito do universo.

Assim como o estoicismo, outro conceito oriundo da Grécia Clássica é o Cinismo, que pregava essencialmente o desapego aos bens materiais e externos. Em que que a felicidade não depende de nada externo à própria pessoa, ou seja, coisas materiais, reconhecimento alheio, e mesmo a preocupação com a saúde, o sofrimento e a morte, nada disso pode trazer a felicidade. Segundo os Cínicos, é justamente a libertação de todas essas coisas que pode trazer a felicidade que, uma vez obtida, nunca mais poderia ser perdida.

Niilismo é um termo e conceito filosófico que afeta as mais diferentes esferas do mundo contemporâneo - arte, literatura, políticas. É a desvalorização e a morte do sentido, a ausência de finalidade e de resposta ao “porquê”. Os valores tradicionais se depreciam e os "princípios e critérios absolutos dissolvem-se". O niilista simplesmente não toma partido, e se abstém da função de procurar sentido ou a verdade nas coisas.
Um exemplo prático de como um niilista se comportaria é na hipótese seguinte: segunda metade do século XX; a humanidade quase se destrói devido a um conflito ideológico entre capitalismo e socialismo - a guerra fria. O niilista simplesmente nega os valores de ambas as ideologias. Nenhuma delas apresenta o ideal ou a verdade absoluta aplicada ao planeta e à humanidade, pois esta verdade absoluta simplesmente não existe. Qualquer idéia defendida por um ser-humano é fruto de suas experiências pessoais, e este só a defende porque ela o satisfaz, muitas vezes o indivíduo não tem nem noção que está a defender idéias apenas por interesses pessoais e egoístas; é involuntário. O cinismo, o estoicismo e o niilismo negam completamente a existência do altruísmo; é uma falácia. Portando, a defesa dessas idéias e o suposto idealismo tem puramente o objetivo de cumprir os objetivos de quem as defende, individualmente. Idealismo é falsidade.

Tendo como premissa essas três bases filosóficas, o idealismo se reduz às cinzas. O desejo de mudar o mundo ou a humanidade, por muitas vezes acreditar que o homem é bom... desvanesce. A indiferença total às coisas passa a reinar, na mente do estóico, cínico ou niilista; afastados, para olhar e poder analisar de longe, de uma forma mais clara. Toda análise feita de dentro(no caso, de dentro de uma discussão) é infectada por experiências pessoais(empirismo), sendo assim corrompida.

Os melhores artistas, os sociólogos e antropólogos que mais souberam sintetizar a sociedade em sua obra, todos eles, tiveram uma fama de serem reclusos e sociofóbicos. Na verdade, eles só conseguiram êxito numa perfeita compreensão de tudo porque se abstraíram de pensamentos politicamente corretos e se mantiveram afastados do que estavam analisando e estudando. Qualquer experiência pessoal afeta o pensamento. E corrompida está a opinião. A lógica está destruída. A emoção impera.

A auto-suficiência, a completa indiferença às coisas externas ao ser, o total desapego tais coisas e não se deixar corromper por experiências pessoais causadoras de emoção... são coisas impossíveis de se atingir por completo. Porém, é um processo. Quanto mais Cínico, Niilista e Estóico você for, mais ajoelhada e desmascarada a existência estará diante de você, de forma que serás um indivíduo que guiará sua vida, tomará conta de sua existência; e não será mais um que é apenas controlado e cavalgado por suas emoções. Atingir o niilismo extremo é tomar controle da situação. Estando em processo esta transformação, em certo nível, a sociedade aparecerá como um pequeno grão insignificante dentro da grande ordem natural das coisas, que deve simplesmente ser aceita(e interpretada por alguns). Mas o sonhador, que pensa em consertar o mundo, colocá-lo no caminho certo, endireitar tudo... este morreu.

Estamos no Brasil. Na década de 2000. Assassinos não são mais culpados e ninguém mais tem moral. Salve-se quem puder. Construa uma pequena fortaleza subterrânea, prenda-se dentro dela e não se infecte pelas mentiras e hipocrisias de tudo que está fora do ser.
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Quem leu até o final deve estar mais confuso do que numa prova de matemática. Recomendo ler mais de uma vez, o texto.

Wednesday, May 13, 2009

Down is the new up.


Você já viu "Clube da Luta"? Já ouviu Radiohead?
Bom, talvez já tenha feito os dois, mas provavelmente nunca fez os dois juntos. O que é algo que recomendo profundamente. As propostas de ambos, do filme e da banda, são quase que as mesmas. E se você junta o filme tendo como trilha sonora os cds da fase pós-Ok Computer, tem uma obra de arte primorosa.

"Clube da Luta" é um filme sobre o mundo visto com os olhos de um paranóico-esquizofrênico, interpretado por Edward Norton. Em determinada cena do filme, o personagem Tyler Durden, que já virou uma espécie de profeta urbano de nossos tempos, discursa:

"Eu vejo no clube da luta os homens mais fortes e inteligentes que conheci. Eu vejo tanto potencial, e desperdiçado(...) Nós somos os filhos do meio da história, sem propósito ou lugar. Não tivemos Grande Guerra, não tivemos Grande Depressão. Nossa grande guerra é a guerra interna e mental, nossa grande depressão são as nossas vidas. Fomos criados pela televisão para acreditar que um dia seríamos ricos ou rockstars. Mas não nos tornamos nada disso. E quando nos damos conta disto, ficamos muito putos!"

Pois essa geração que o Tyler Durden descreveu é sintetizada perfeitamente nas músicas do Radiohead. A banda absorve o espírito dos dias atuais e joga tudo em suas músicas psicodélicas. Com tantas críticas à modernidade, aos valores urbanos da sociedade capitalista, é fácil se perguntar o motivo disto. Já que todos sabem que apesar de todos os problemas da geração atual, ainda é a mais pacífica e harmoniosa dos últimos séculos. Então... por quê um filme como Clube da Luta e uma banda como o Radiohead frequentemente assimilam o século XXI como o início do inferno na Terra? Visto que, aparentemente, a humanidade anda menos pior do que em tempos passados.

Porque, como dito no discurso citado, as maiores tragédias da atualidade não são das relações humanas, e sim as tragédias que ocorrem dentro de nós. Nossas depressões, paranóias, manias, suicídios, decepções, e etc.

Não estamos no meio de uma Grande Guerra, como as da primeira metade do século XX, a nossa guerra é apenas mental, interna.
Não estamos no meio de uma Grande Depressão, como na década de 30, nossa depressão são apenas as nossas vidas.

E esse espírito de... não sei, este espírito da melancolia de viver no mundo por simplesmente estar condenado a existir, é captado perfeitamente tanto pelo filme quanto pelos músicos de Oxford.

"I have no idea what i am talking about

I am trapped in this body and can't get out(...)


Has the light gone out for you?

Because the light's gone out for me
.
It is the 21st century

It is the 21st century!"


(Eu não tenho idéia do que estou falando.
Estou preso neste corpo e não consigo sair(...)

A luz já se apagou para você?
Porque ela já se apagou para mim.
É o século 21.
É o século 21!)

Radiohead - Bodysnatchers

Música totalmente adequada para trilha sonora do filme, pena que foi composta 9 anos após o lançamento deste.

Tuesday, May 12, 2009

Paranóia. Paranóia.


Preciso me acostumar com a vida, o cotidiano.
Mudar de hábitos, adaptá-los, para adiquirir uma visão mais acolhedora ao que nos cerca, inevitalvelmente.

Os barulhos insuportáveis. As idiotices verdadeiras.
A alienação. A nação alienígena.
A paranóia. A certeza.
A fraude. A farsa.
O poder. A destruição.
O pânico. O vômito.
O pânico. O vômito.
Aquecimento global. Milhares desabrigados.
Casas abaixo. Prédios acima.
Genocídio. Infanticídio.
Crise Financeira. Gripe Suína.
Bento XVI. Israel.
Oriente Médio. Rio de Janeiro.
Favela do Alemão. Faixa de Gaza.
50 Cent. Fernandinho Beira-Mar.
Champinha. José Sarney.
Luis Inácio. Isabella Nardoni.
Renan Calheiros. Hugo Chávez.
Barack Obama. Satanás.
Século XXI. INFERNO!

... "Deus realmente ama suas criancinhas".