Friday, November 21, 2008

Ensaio sobre o Isolamento


“Sou, na verdade, o Lobo da Estepe, como me digo, tantas vezes — aquele animal extraviado que não encontra abrigo, nem alegria, nem alimento num mundo que lhe é estranho e incompreensível.”

Resolvi começar este texto com a citação de um de meus livros favoritos, do escritor alemão Hermann Hesse, "O Lobo da Estepe". Não só por admiração ao livro, mas sim por uma identificação grande que sinto com a citação. No decorrer do texto, o leitor entenderá o porquê. O livro narra a história de um outsider, que se isola e é isolado da sociedade, por ter ideais e princípios totalmente diferentes da maioria; dos denominados "comuns".

Este não é um texto que escrevo só para somar à coleção que tenho. Não é só mais um desabafo. Faz parte da terapia que me impus. Faz parte da intenção de elevar meu ser interior, e, tudo isso com a finalidade simples só de me entender. Entender meu comportamento, que muitas vezes não é saudável, tanto aos meus próximos quanto a mim mesmo, chegando muitas vezes a ser auto-destrutivo.

Nessas últimas semanas tenho percebido que minha mentalidade está diretamente relacionada à atmosfera externa. Sou muito sensível ao ponto de tomar as dores do ambiente que me cerca. Qualquer defeito, ao meu redor, incomoda-me dolorosamente. Eu não deveria me incomodar com fatores tão externos à mim, que nada me somam; e buscar a felicidade apenas dentro de mim mesmo.

Como se não bastasse a efervescência de minhas emoções, que estão sempre em estado de ebulição, se assim podemos comparar; possuo uma intensa tendência a transformar o mundo(o meu mundo) em um Caos. Não que o mundo seja um Caos. O mundo é aquilo em que eu o transformo, através do que enxergo, dependendo da visão que tenho. E, inexplicavelmente, eu apenas enxergo o mundo como uma ópera do horrível, ou um filme cult de drama sobre a natureza cruel humana. Parece que me acostumei a apenas olhar o lado selvagem, cruel, sangüinário, doentio, da humanidade, deve ser reflexo de minha obsessão por estudar o século XX, me fez olhar o homem como se este fosse um animal doentio e sedento por poder, por dominação desenfreada, por imposições totalitárias, e selvagerismo e violência como principal método para se atingir os objetivos estabelecidos. E isso me dá medo, por isso eu sempre tenha me isolado de todos, como sou mimado e medroso, prefiro me esconder. Me esconder desses vampiros.

Geralmente eu me sinto triste pela pessoa que estou me tornando, ou até pela pessoa que me tornei. Sinto vergonha quando as pessoas que têm/tinham expectativas de um possível sucesso meu me olham. Pois sei que estou milhas distante do padrão ideal de homem, filho, amigo, irmão, namorado e aluno. E o pior de tudo é que eu não me considero um fracassado, simplesmente porque o conceito da mídia e da sociedade de "homem ideal, bem sucedido e invejável"está muito, mas muito mesmo, distante do que eu estabeleci como um homem bem sucedido na vida.

Mas por quê? Às vezes eu gostaria de ser só mais um. Só mais uma ovelha branca em meio ao rebanho. Gostaria de estar feliz com o fato de estar me tornando um homem que tem condições de entrar na corrida desumana que é o "mercado de trabalho"; mas para mim, isto é tão vazio, você existir com ideais e metas tão fabricadas, e tão frouxas, de apenas enriquecimento material, sem nenhuma perspectiva de evolução espiritual e intelectual(o que tanto prezo).

Realmente, é muito difícil acordar para mais um dia em que construirei um futuro que não tenho certeza se o quero para mim.

Não que os outros homens, a maioria deles, estejam errados. Longe de mim apontar quem está certo e/ou quem está errado. Mas me tornar "mais um", igual à maioria, é e sempre foi tudo aquilo que sempre fugi de. Foi sempre tudo aquilo que rejeitei. E muitas vezes penso que é de minha natureza, sinto que é meu instinto me transformar num lobo da estepe, num outsider. Deve ser pré-disposição biológica.

E o que me faz sofrer é estar agindo contra a minha natureza. Cumprir metas e viver sonhos impostos pelo coletivo, pela sociedade, é isto que estou fazendo. Contruindo uma vida segura e ideal, mas que eu considero, no mínimo, incompleta. Parece que isto se tornou uma maldição.

Talvez todo este meu sofrimento seja apenas a falta que eu sinto de ser eu mesmo. Tenho a sensação constante de que não estou sendo aquele que deveria ser para estar feliz comigo mesmo, parece que sou apenas um ator, representando uma transformação. Transformação de um garoto em um homem que querem que eu seja.
Só representando, pois na verdade, eu fui, sou, e SEMPRE vou ser aquele garoto gordinho e descabelado que nunca perdeu a capacidade e o dom de se impressionar com as pequenas coisas. Os movimentos cotidianos de coisas da natureza ainda me emocionam, e ganhar um carro do Jiban-de-aço de presente ainda me faz ficar eufórico da mesma maneira em que fiquei no meu aniversário de 4 anos. Sou só uma criança, infeliz por estar envelhecendo.


"Faz parte desse jogo dizer ao mundo todo que só conhece o seu quinhão ruim.
É simples desse jeito, quando se encolhe o peito, e finge não haver competição.
É a solução de quem não quer perder aquilo que já tem e fecha a mão para o que há de vir"

Los Hermanos - Cara Estranho.