Friday, October 08, 2010

Realidade que parece ficção




Certa vez o escritor-jornalista brasileiro Leandro Narloch disse: "Artista bem-intencionado é um saco. Arte boa mesmo nasce com raiva, inveja, vingança (prato que se atira quente). É o ódio criativo." Frase mais adequada para a obra de Arte sobre a qual versarei nesse texto... difícil.

Não, esta não é uma resenha de um filme. É uma ode a um filme.
E o filme da vez é Tropa de Elite 2. O violento e denunciante filme de José Padilha.

Não gasto meu tempo no blog para falar mal de um filme. Se alguma obra está aqui, é porque é realmente boa. E na minha visão, Tropa de Elite 2 é uma obra-prima do Cinema Nacional Moderno. E o (agora)Coronel Nascimento está perto de se tornar o maior herói fictício(?) da nação. Conseguiram superar muito bem a expectativa em torno desse lançamento, devido o fenômeno que foi o primeiro filme da série. Este segundo filme é bem diferente, mais detalhista e mais sério. Perde um pouco do ufanismo bastante presente no primeiro e ganha em todos os aspectos por ser um retrato profundamente fiel da violência urbana do Brasil. Um retrato até melhor esmiuçado do que o também ótimo Cidade de Deus, já que o esquema corrupto denunciado aqui vai das favelas do Rio de Janeiro até o Congresso Nacional em Brasília. Tropa de Elite 2 é bem "mais filme" que o primeiro em todos os aspectos.

Ao contrário da futilidade extrema e irritante da maior parte dos filmes brasileiros - filmes cheio de atores globais com roteiro raso que beira o retardo mental e cinebiografias que visam promover celebridades já consagradas pela mídia, religião ou política - (reflexo da sociedade do país, igualmente fútil, a ponto de escolher um palhaço semi analfabeto como maior representante), esta é uma obra que não "entra num ouvido e sai pelo outro" simplesmente, o que é raro. O retorno da Tropa fica na mente do espectador muito tempo depois de saído do cinema. Reflexões e tapas na cara. O herói Nascimento põe o dedo na cara de todos nós. Discussões "papo de sociólogo" irão surgir, mas a revolta com a política e o sistema vai despertar nos coraçõezinhos de vocês também.

Como muito se viu nos trailers e prévias, o foco da crítica do filme mudou do 1º para o 2º. Enquanto em Tropa 1 os vilões eram os traficantes e policiais corruptos, o buraco agora é BEM mais embaixo: políticos, a mídia e as milícias do Rio de Janeiro.

É denso, é revoltante, é muito violento(não a violência glamourizada do cinema americano, mas a violência seca, humilhante e incômoda). Dá orgulho de dizer que o Brasil fez um filme de ação magnífico. Não pela primeira vez, mas americano nenhum fica diante de uma obra tão densa e complexa nos blockbusters que são produzidos por lá, salvo raras exceções. É cinemão que não deixa barato para filme de máfia do Scorsese nenhum!

Não dá para explicar o motivo de Tropa de Elite 2 ser tão bom. Na verdade dá, mas como a maioria ainda não viu o filme, não quero dar spoilers. Torço para que seja um sucesso de bilheteria, que estoure e que todo o país veja, pois merece. Principalmente pelo tom denunciante, que atinge até o nosso herói em determinada parte do filme.

Ao que possam dizer, Tropa 2 não é exagerado. A realidade brasileira(principalmente a do Rio de Janeiro) que se parece muito com a ficção. Até os caricatos e palhaços apresentadores de programas policiais que se elegem deputados estão lá - Alô Paulo Wagner!. Palmas para José Padilha, e para Wagner Moura. Como eu disse, o texto não era uma resenha, mas uma ode. Assim como o filme, que é uma "Ode à Ordem", acima da burocracia ineficiente, da corrupção e da bagunça generalizada, tão comuns no jeitinho brasileiro - principal alvo dos dois filmes da série. Resumindo, é um tiro de 12 na hipocrisia fétida da nossa sociedade. Sim, conversa de sociólogo, mas é.

Viva a ordem! Abaixo o jeitinho brasileiro!

Viva ao Coronel Nascimento. Que seu personagem agora imortal se transforme em ideologia na mente dos brasileiros.