Friday, February 25, 2011

A floresta assombrada do Radiohead



The King of Limbs: uma (peculiar) análise.

O nome do álbum novo do Radiohead, The King of Limbs refere-se a uma árvore de carvalho que fica na Wiltshire’s Savernake Forest, floresta próxima de onde a banda se reúne para compor e gravar suas músicas. A tal árvore tem um significado místico, possui aproximadamente mil anos(!) e aparece no 23º capítulo do Alcorão. Um artefato místico e enigmático situado numa floresta obscura: absolutamente nada poderia traduzir melhor a nova obra do Radiohead - a foto de promoção do álbum está aí para provar. De fato, é o nome ideal para o disco lançado semana passada.

Em sua nova fábula musical, o que aparenta é que o eu-lírico do Thom Yorke é indefinido. O inglês que cumpre o papel guru existencial de milhões já encarnou alienígenas, robôs, humanos e demasiadamente humanos. Em The King of Limbs, Yorke chega a ser o porta-voz de uma flor desabrochando, a citar como exemplo. Ou de um andarilho perdido num sonho dentro dessa floresta obscura. Como eu disse, é indefinido. Se não fosse, não seria Radiohead. Mas o que importa aqui não é esse eu-lírico, e sim a atmosfera.

Fato é que a continuação do brilhante In Rainbows(2007) possui menos músicas e é um trabalho mais minimalista exatamente por seguir sua própria lógica: Uma jornada descritiva de lagos de águas límpidas, flores desabrochando, árvores mágicas e seus frutos, libélulas e passáros gigantes e animais ferozes.

O disco começa com o "Florescer"(Bloom), canção à Kid A, com uma bateria bem desafiadora. Morning Mr. Magpie faz referência a um pássaro comum na Inglaterra que é objeto de uma surpestição antiga dos ingleses, que ao virem o passarinho, educadamente o cumprimentam "Good Morning Mr. Magpie, How are you, Sir?". Little By Little, terceira faixa, é talvez a que mais se encaixe no estilo In Rainbows, a não ser pela percussão excêntrica característica dos trabalhos de Jonny Greenwood, multinstrumentalista da banda. Feral é a música instrumental que sugere os barulhos de algum animal feroz, obviamente. Lotus Flower, que dá o clipe da banda, com o Yorke dançando desengonçadamente, do jeito que os fãs gostam de ver nos shows, é exatamente a convergência dos trabalhos anteriores do Radiohead com a característica marcante desse novo trabalho; "There's an empty space inside my heart, where the weeds take root" é um exemplo.


"Slowly we unfold ,as lotus flowers" (Lentamente nós desabrocharemos, como flores de lótus), é o toque preciso de bucolismo presente em The King of Limbs. A jornada segue com Codex, uma descrição de um lago de águas límpidas, sem nenhum ser-humano por perto, só libélulas às margens das águas. Essa é a música do disco que mais me deixou intrigado, por sua semelhança temática quase que idêntica a Pyramid Song, do Amnesiac(2001). Em ambas as músicas estão lá a alusão ao suicídio, o mergulho para a morte(?) nas águas de um rio/lago, com Thom Yorke cantando magicamente ao seu piano ecoante. Só faltou a bateria de Phil Selway para deixar a música a mesma. Codex é quase que uma volta a Pyramid Song, nem mesmo uma continuação. A diferença é que agora em vez de Yorke repetir que não há nada a temer ou duvidar, em Codex "você não está fazendo nada de errado". Minha análise pode estar errada, e a alusão ao suicídio pode não existir, mas fato é que a faixa que se segue a Codex é Give Up The Ghost, que é uma gíria que pode ser traduzida para algo semelhante a "Passar dessa para uma melhor", ou qualquer coisa que se refira a morrer. Música mais obscura do álbum, com sussurros de um fantasma ao fundo da canção repetindo "don't hurt me, don't haunt me", e o violão que, em vez do outrora piano, agora este que ecoa. Que floresta assombrada essa que o Radiohead encontrou. Primeira obra de arte que encontro um boculismo mórbido, obscuro. Sim, pois geralmente a arte bucólica está cheia de vida, verde e às vezes sorrisos. Geralmente. Mas beleza também não falta em The King of Limbs, como em qualquer paisagem natural.

Justamente quando a caminhada pela floresta assombrada chega ao fim com a ida do andarilho "dessa para uma melhor", vem o despertar. É isso que diz a última faixa, Separator. Indicando que tivesse sido apenas um sonho.

"It’s like i’m falling out of bed
From a long, weary dream
The sweetest flowers and fruits hang from trees
Falling off the giant bird that’s been carrying me
"

(É como se eu estivesse caindo da cama
Depois de um sonho longo e fatigante
As mais doces frutas e flores nas árvores
Caindo do pássaro gigante que me carregava).

Ao fim da música, Yorke repete "Se você pensa que isso acabou, você está enganado", sugerindo que vem mais coisa por aí? Espero que sim, pois por mais que satisfaça, oito músicas do Radiohead depois de quase quatro anos de espera é pouco. Julgando pelo nome da música, é de se crer que seja apenas um divisor(um SEPARADOR) de coisas novas que venham por aí.

No geral, a impressão que me deixou é que, ao contrário de In Rainbows, quando o Radiohead atingiu seu auge de popularidade nos Estados Unidos e Europa(a apresentação nos Grammy's de 2009 abrindo o evento não deixa dúvidas disso), The King of Limbs não conseguirá um novo público para a banda. E é óbvio que a intenção deles passava longe dessa. É um trabalho mais minimalista, que remete ao experimentalismo do Kid A, e que, de certa forma, potencializa as características da banda que faz com que quem os odiasse, passe a odiar ainda mais, pois o álbum é, no geral, lento, com aquilo que muitos chamam de "experimentalismo desnecessário", "barulhinhos bobos". Mas isso tudo já caiu nas graças do enorme público do Radiohead. Eles poderiam muito bem produzir algo que ultrapassasse a barreira de vendas de U2 e Coldplay, se assim desejassem. O Radiohead se reinventa a cada disco, e como eu disse no início da análise, Thom Yorke está sempre a encarnar personagens exóticos, místicos e estranhos. Não importa se é um robô, um ET, uma flor ou uma fera, parece que eles nunca erram.

Friday, November 19, 2010

"Futebol é coisa pra macho", ou "Por que eu gosto de futebol".


O imortal e inesquecível Felipão, na época em que jogava futebol, demonstrando como se faz



"Dizem que o futebol é uma questão de vida ou morte. Eu discordo... é muito mais importante do que isso!"

Bil Shankly, ex técnico do Liverpool.


O jogo desta Quarta, o maior clássico do futebol entre países, me lembrou o motivo de eu ser apaixonado por futebol. Argentina versus Brasil. Não é de se assustar que mesmo um amistoso entre essas duas seleções tenha se tornado algo de extrema importância. Estamos falando da Argentina, o povo mais apaixonado por futebol no mundo, e claro, do Brasil. O Texto que se segue é um tanto quanto auto-biográfico, e ressalvando as enormes proporções, está para a minha vida como o livro Febre de Bola está para o autor inglês Nick Hornby, em que o genial escritor pop divaga sobre sua paixão pelo clássico esporte bretão.

Até certa idade, quando eu era um simples inocente juvenil, minha idéia de futebol era diversa da que tenho hoje. Acreditava no mito que os jornalistas brasileiros chamam de "Futebol Arte", o termo mais ridículo e contraditório que se tem notícia. Mudei de idéia e de paixão ao ver um depoimento do escritor gremista Eduardo Bueno(um dos caras que mais vende livros no Brasil, e uma espécie de guru do futebol para muita gente) sobre a famosa Batalha dos Aflitos. Para os infelizes desinformados, a Batalha dos Aflitos foi um "jogo" entre Grêmio e Náutico que valia o retorno do tricolor gaúcho à primeira divisão do campeonato brasileiro. Jogo é entre aspas mesmo, pois aquilo foi uma verdadeira batalha campal que se deu em Recife, no estádio dos Aflitos. O Grêmio não podia levar nenhum gol, e com quatro jogadores expulsos, após a defesa de um pênalti marcado a favor do Náutico e mesmo com apenas 7 jogadores em campo, marcou um golaço perto do fim, terminando assim em 1 x 0 e o retorno garantido; aquele dia ficou marcado pelo feito histórico e abriu a minha visão de que futebol não é alegria. Futebol é guerra. E se for arte, é uma epopéia, ou dependendo do caso, uma tragédia grega. E claro, naquele dia me tornei gremista. E admirador voraz do futebol gaúcho/uruguaio/argentino.

Que me perdoem os politicamente corretos e amantes do futebol bailarino, mas futebol arte é coisa de fresco. Por quê? Como o citado Eduardo Bueno disse, o futebol é uma metáfora da vida. E a vida não é fácil, parceiro. Tal como a vida, o futebol árduo, duro, difícil, cheio de sofrimento, e com a glória redentora no final. A vida não é um tapete verde liso e brilhante, e sim um campo esburacado.

É aí que eu faço uma analogia com o Argentina e Brasil que ocorreu essa semana. Tal como a vida, o futebol árduo, duro, difícil, cheio de sofrimento, e com a glória redentora no final. Nenhuma frase resume melhor o que foi o jogo do que esta. Durante os dias que antecederam à derrota brasileira, patifes como Ronaldinho Gaúcho, Robinho e Neymar ficaram celebrando o que chamavam de "a volta do futebol arte à seleção brasileira após a Era Dunga". Que futebol arte é esse? Não vi esses meninos da vila(Robinho e Neymar) sobreviverem a um único carrinho da defesa argentina, se esborrachavam todinhos. E logo após a luta que foi os noventa minutos de jogo, Messi resolve fazer a parte dele e constrói a glória redentora argentina do final. Entenderam?

Essa idiotização que cerca o futebol brasileiro é fabricada pela Globo, que depois dos conflitos que teve com o ex-técnico Dunga(o magnífico Dunga, que foi um exímio volante de contenção, capitão do tetra e treinador decente), passou a demonizar o homem. Mas não se enganem, desde 1990 a imprensa do Brasil decidiu dar o nome de "Era Dunga" à fase da Seleção Brasileira que tinha Dunga no comando, caracterizada por o que eles chamavam de um jogo feio, um futebol sem brilho. 1990. E ao fim da copa de 2010 vários jornais estampavam Tem fim a Era Dunga. Vamos fazer uma retrospectiva, se a Era Dunga começa em 1990 e termina em 2010; das cinco Copas do Mundo que o Brasil participou, foram DUAS Copas do Mundo ganhas, três finais e vários títulos menores. Ok, eu sei que das cinco copas deste período o Dunga só esteve à frente de quatro(três como capitão e uma como técnico), mas naquela copa de 2002, vocês acham mesmo que a seleção do maravilhoso LUÍS FELIPÃO SCOLARI, o Brasil jogava futebol arte? Pff... Sem contar que durante o período que Dunga foi técnico da seleção, o Brasil NUNCA perdeu da Argentina na seleção principal, pelo contrário, foram várias goleadas. Pense um pouco, Felipe Melo teria deixado Messi fazer aquele gol no fim do jogo? Seria um baita de um carrinho nele.

Comprovando a tese do sucesso do Futebol-Força(uma redundância, pois o futebol É força), os três times mais ricos do Brasil, os três "grandes" da cidade de São Paulo importam técnicos gaúchos(pode ver a composição atual). E dos quatro últimos técnicos da seleção, três foram gaúchos; Felipão, Dunga e Mano Menezes.

Coisa que me irrita é essa babação por futebol arte. É claro que um time tem que ter jogadores com habilidade, tá aí o Messi para provar. Mas futebol não é feito de beleza e alegria, e sim de superação, resistência e força. Exemplo, quando jornalistas da TV estão fazendo listas a escolher o "gol mais bonito da rodada", ele pode até parecer uma obra de arte, mas nenhum gol lindo e maravilhoso, reprisado 300 vezes vai ter 10% da importância e emoção do gol mais feio, chutado de bico mas visto ao vivo no estádio num momento de aflição.

Futebol é isso. A essência é essa. Por isso nem assisto ao Brasileirão. Pontos corridos é chato, monótono e besta, passa ao lado da essência do futebol. Bom mesmo é o primeiro semestre, cujos esquemas dos principais campeonatos(a COPA DO BRASIL e a COPA LIBERTADORES) capturam o espírito do esporte bretão logo pelo nome: jogos de mata-mata.

Já pensou se a Copa do Mundo fosse feita de pontos corridos e não de mata-mata? Eu me mataria.

Sunday, November 14, 2010

Mixtape #2 - Soundtracks



A mixtape número 2 será sobre meu assunto favorito: Cinema. Temas de filmes que marcaram minha vida. Atenção: TEMAS que marcaram minha vida, não os filmes - embora eu adore todos os filmes da lista, escolhi as canções por critérios simplesmente de qualidade das músicas, aliando ao fato de terem servido perfeitamente como trilha sonora para determinada cena ou até várias cenas.

Decidi por não incluir músicas orquestrais, pois aí só ia ter John Williams e Ennio Morricone, concordam?

Algumas das cenas em que as músicas tocam são de filmes bem recentes, como a brilhante entrada de Watchmen ao som de The Times They Are A-Changin' do Bob Dylan; e tem as mais antigas, como Paint It Black dos Stones no clássico de guerra Full Metal Jacket, do mestre Stanley Kubrick, e também a famosa cena de entrada de A Primeira Noite de um Homem, perfeita à melodia de Simon and Garfunkel. Mas vou confessar as minhas favoritas... Tinham que ser, claro, de filmes do Martin Scorsese. The Hands That Built America(U2), de Gangues de Nova York; e I'm Shipping Up To Boston(Drokick Murphys), de Os Infiltrados.

Bom, aqui vai a lista:

Artista - Música - Filme

Bob Dylan - The Times They Are A-Changin' - Watchmen
Simon and Garfunkel - Sound of Silence - A Primeira Noite de um homem
Yann Tiersen - Summer 1978 - Adeus, Lenin!
U2 - The Hands That Built America - Gangues de Nova York
Dropkick Murphys - I'm Shipping Up To Boston - Os Infiltrados
Edith Piaf - Non je ne regrette - Inception
Chingon - Malaguena Salerosa - Kill Bill Vol.2
Eddie Vedder - Society - Na Natureza Selvagem
Jon Brion - Tema de 'Brilho Eterno de uma mente sem lembranças'
The Rolling Stones - Paint It Black - Full Metal Jacket
Lou Reed - Perfect Day - Trainspotting
Steelers Wheel - Stuck in the middle with you - Cães de Aluguel
Pixies - Where's my mind? - Clube da Luta


LINK: http://www.megaupload.com/?d=Z5K9CWCE

(Se o link expirar, é só avisar por comentário, que posto um novo)

Friday, October 08, 2010

Realidade que parece ficção




Certa vez o escritor-jornalista brasileiro Leandro Narloch disse: "Artista bem-intencionado é um saco. Arte boa mesmo nasce com raiva, inveja, vingança (prato que se atira quente). É o ódio criativo." Frase mais adequada para a obra de Arte sobre a qual versarei nesse texto... difícil.

Não, esta não é uma resenha de um filme. É uma ode a um filme.
E o filme da vez é Tropa de Elite 2. O violento e denunciante filme de José Padilha.

Não gasto meu tempo no blog para falar mal de um filme. Se alguma obra está aqui, é porque é realmente boa. E na minha visão, Tropa de Elite 2 é uma obra-prima do Cinema Nacional Moderno. E o (agora)Coronel Nascimento está perto de se tornar o maior herói fictício(?) da nação. Conseguiram superar muito bem a expectativa em torno desse lançamento, devido o fenômeno que foi o primeiro filme da série. Este segundo filme é bem diferente, mais detalhista e mais sério. Perde um pouco do ufanismo bastante presente no primeiro e ganha em todos os aspectos por ser um retrato profundamente fiel da violência urbana do Brasil. Um retrato até melhor esmiuçado do que o também ótimo Cidade de Deus, já que o esquema corrupto denunciado aqui vai das favelas do Rio de Janeiro até o Congresso Nacional em Brasília. Tropa de Elite 2 é bem "mais filme" que o primeiro em todos os aspectos.

Ao contrário da futilidade extrema e irritante da maior parte dos filmes brasileiros - filmes cheio de atores globais com roteiro raso que beira o retardo mental e cinebiografias que visam promover celebridades já consagradas pela mídia, religião ou política - (reflexo da sociedade do país, igualmente fútil, a ponto de escolher um palhaço semi analfabeto como maior representante), esta é uma obra que não "entra num ouvido e sai pelo outro" simplesmente, o que é raro. O retorno da Tropa fica na mente do espectador muito tempo depois de saído do cinema. Reflexões e tapas na cara. O herói Nascimento põe o dedo na cara de todos nós. Discussões "papo de sociólogo" irão surgir, mas a revolta com a política e o sistema vai despertar nos coraçõezinhos de vocês também.

Como muito se viu nos trailers e prévias, o foco da crítica do filme mudou do 1º para o 2º. Enquanto em Tropa 1 os vilões eram os traficantes e policiais corruptos, o buraco agora é BEM mais embaixo: políticos, a mídia e as milícias do Rio de Janeiro.

É denso, é revoltante, é muito violento(não a violência glamourizada do cinema americano, mas a violência seca, humilhante e incômoda). Dá orgulho de dizer que o Brasil fez um filme de ação magnífico. Não pela primeira vez, mas americano nenhum fica diante de uma obra tão densa e complexa nos blockbusters que são produzidos por lá, salvo raras exceções. É cinemão que não deixa barato para filme de máfia do Scorsese nenhum!

Não dá para explicar o motivo de Tropa de Elite 2 ser tão bom. Na verdade dá, mas como a maioria ainda não viu o filme, não quero dar spoilers. Torço para que seja um sucesso de bilheteria, que estoure e que todo o país veja, pois merece. Principalmente pelo tom denunciante, que atinge até o nosso herói em determinada parte do filme.

Ao que possam dizer, Tropa 2 não é exagerado. A realidade brasileira(principalmente a do Rio de Janeiro) que se parece muito com a ficção. Até os caricatos e palhaços apresentadores de programas policiais que se elegem deputados estão lá - Alô Paulo Wagner!. Palmas para José Padilha, e para Wagner Moura. Como eu disse, o texto não era uma resenha, mas uma ode. Assim como o filme, que é uma "Ode à Ordem", acima da burocracia ineficiente, da corrupção e da bagunça generalizada, tão comuns no jeitinho brasileiro - principal alvo dos dois filmes da série. Resumindo, é um tiro de 12 na hipocrisia fétida da nossa sociedade. Sim, conversa de sociólogo, mas é.

Viva a ordem! Abaixo o jeitinho brasileiro!

Viva ao Coronel Nascimento. Que seu personagem agora imortal se transforme em ideologia na mente dos brasileiros.

Friday, September 24, 2010

Mixtape - Primavera



Bem, achei um novo hobby. Com uma certa frequência, estarei disponibilizando downloads aqui no blog de mixtapes temáticas. Escolherei músicas cuidadosamente a partir de um tema também escolhido cuidadosamente. Algumas bandas meio desconhecidas, outras já consagradas por clássicos.

E hoje, para celebrar o início da Primavera, vai uma seleção de dez músicas alegres, para embalar os próximos três meses. Músicas pra cima, para se ouvir enquanto se rega o jardim da sua casa.

Link: http://rapidshare.com/files/421013552/Blog_futurismoparanoide.blogspot.com_Mixtape_1_Primavera.rar

Playlist:

Lacrosse - You Can't Say No Forever
Seabear - I Sing I Swim
Sigur Rós - Inní mér syngur vitleysingur
Apanhador Só - Vila do Meio-Dia
Ted Leo and The Pharmacists - Me and Mia
Barry Louis Polisar - All I Want is You
Holger - Let 'em Shine Below
Supercordas - O Céu que você vê
Bidê ou Balde - Bromélias
Arcade Fire - [Antichrist Television Blues]


PS: Caso o link expire, é porque atingiu o máximo de downloads, mas é só solicitar nos comentários que eu upo e ponho o novo link para download aqui.

Monday, August 23, 2010

Apanhador Só - 2010



Música boa.
Aqui no blog eu costumo falar de música de vez em quando. Mas é raro falar só de uma banda específica. Geralmente é sobre várias juntas, de uma cena, de uma época, etc. Se eu dedico um post inteiro a só uma banda, saiba de uma coisa: é porque ela é muito foda.

A novidade da vez é a banda gaúcha de Porto Alegre Apanhador Só, que lançou recentemente um álbum de mesmo nome. Esses rapazes fazem rock, mas não se engane pensando que são os típicos roqueiros gaúchos de terno, que ouvem The Who, exaltam o rock mod e querem os anos 60 de volta. O Apanhador Só canta a poesia simples brasileira. Numa entrevista recente, os rapazes da banda comentaram que as ruas e os bairros de Porto Alegre serviam de grande inspiração para as músicas. Também percebi isso, mas seria eu o único a perceber uma forte "brasilidade" nas melodias e letras da banda?

Surgiram as desnecessárias comparações com Los Hermanos. Realmente desnecessárias. Acredito que o Los Hermanos, pela importância que teve, deixou marcas em muitas das atuais bandas do rock independente do país. Neste caso específico, o que mais lembra é a guitarrinha melodiosa da Apanhador Só, claramente influenciada pelo jeito de tocar de Rodrigo Amarante.

Com o cd "Apanhador Só" lançado em 2010, eles já concorrem na categoria Aposta no VMB10 e sem dúvidas vão rodar o país inteiro conquistando muitos fãs.

Link para download: http://www.apanhadorso.com/

Destaques para: Um Rei e O Zé, Maria Augusta, Nescafé, Bem-me-leve e Vila do Meio Dia.

Monday, August 16, 2010

Quem sabe amanhã? Próximo ano?




"Sempre pensei que aconteceria, de criança acreditava nos adultos que era só pagar pra ver.

Feio, meio assim desconfiado, perna em xis, já barrigudo, duvidando que eu conseguisse crescer.
Mesmo assim, contudo, o tempo foi passando e eu fui adiando, mudo, os grandes dias que ia conhecer.
Quem sabe amanhã? Próximo ano?
Cebolinha com seus planos infalíveis ia me ensinar a ser forte, corajoso, bom de bola, um dos bonitos da escola(muito embora eu não fizesse questão).


Ainda bem que eu sou brasileiro, tão teimoso, esperançoso, orgulhoso de ser pentacampeão, já que se eu fosse americano pegaria uma pistola e a cabeça ia perder a razão:
mataria quinze na escola, estouraria a caixola e apareceria na televisão.


E por fim cresci, de insulto em insulto eu me vi como um adulto, culto, pronto pra o que mesmo? Já nem sei
.
Olho e não encontro, penso se não fui um tonto
de acreditar no conto do vigário que escutei.
Não tem carro me esperando,
não tem mesa reservada,
só uma piada sem graça de português.
Não tem vinho nem champanhe ou taça, só um dedo de cachaça e um troco magro todo fim de mês.

Tudo que eu sempre sonhei.
Tanto que eu consegui...
É tão bom estar aqui...
Quanto ainda está por vir...

Mas bobagem, quanta amargura, eu já sei que a vida é dura, agora é pura questão de se acostumar.
Basta ter coragem e finura e o jogo de cintura aprendido dia a dia, bar em bar.
Pra que reclamar se tem conhaque, se na tevê tem um craque e o meu Timão só entra pra ganhar?

Pra que imitar Chico Buarque, pra que querer ser um mártir se faz parte do momento se entregar?"

Não preciso escrever nada, pois esta música fala por mim: Pullovers; Tudo que eu sempre sonhei.

Tuesday, August 10, 2010

Vários sonhos dentro de um sonho.



Não resisti e tive que escrever algo sobre o filme do momento: Inception. Traduzido para o Brasil, erroneamente(ao meu ver) como A Origem. Filme para nerd nenhum botar defeito.

Mas não se preocupe, não darei spoiler algum. Até porque quanto menos se sabe sobre o filme em questão, mais se aprecia. Só falarei um pouco sobre o impacto do filme. Metade da crítica especializada celebra Inception como o filme do ano, e alguns mais animados o elegem como o mais inovador dos últimos tempos. A outra metade se irrita com o hype feito em torno de Inception e argumenta que o filme não supre a expectativa que se criou por ele, e que o enredo confuso não é sinônimo de profundo.

Sinto-me com autoridade para falar do filme, já sou fã do diretor Cristopher Nolan desde Memento(Amnésia) e um apaixonado por cinema e literatura de Ficção Científica. Mantendo a imparcialidade, alguns fatos devem ser ditos sobre o novo filme do talentoso diretor;

The Inception revoluciona? Não.
Inova? Sim, se analisarmos como parâmetro a Hollywood dos dias de hoje.
Seria o filme o "novo Matrix"? A única semelhança entre The Inception e Matrix é que ambos atingem o mesmo público. Matrix, o original, criou uma franquia que originou mais dois filmes, desenho, quadrinhos, bonecos e video-games. Inception não cria isso.
Mas um fato que não pode ser negado é que estamos diante SIM do melhor filme da indústria americana em anos. O cinema de alto orçamento não se depara com algo tão bom desde Senhor dos Anéis, talvez.

Em dias de uma Hollywood infantilizada que busca cada vez mais como fonte as histórias em quadrinho e a literatura infanto-juvenil, Inception marca. Não acostumados com filmes quebra-cabeça, o público pode até elegê-lo como um filme profundo, complexo e altamente cabeça, mas não achei. Achei simples, do tipo que assistindo apenas uma vez dá para sacar sem problemas. O roteiro é ótimo sim, mas não perfeito. E algo que tem sido muito pouco comentado é que as cenas de ação são os ponto alto do filme, pois é algo de se encher os olhos. Visualmente, Inception não tem a riqueza de detalhes de Avatar, mas empolga mais e imortaliza cenários aos quais o público antes não estava acostumado(a sequência de cenas do elevador preso no sonho sem gravidade é fantástica!).

Posso dizer que ninguém aguentava mais ver filmes sci-fi batendo na mesma tecla: a tecnologia/maquinária insurgindo contra o homem/criador. Inception, ou A Origem, é uma ficção científica ambientada dentro da mente humana que entra para a lista dos melhores filmes do gênero, ao lado de Metropolis, Blade Runner e Matrix.

Sunday, August 01, 2010

indie.br



10 bandas do indie nacional que valem a pena.

Se você é um dos muitos que reclama que o rock no Brasil está péssimo por conta dos Cines, Restarts e diversos coloridos por aí afora, ou você é um completo preguiçoso, ou tem um tremento mal-gosto. O cenário independente brasileiro vai muito bem sim, repleto de bandas dignas.

Para início de conversa, quem abre a boca pra falar mal de graça ignorou completamente os recentes lançamentos do Móveis Coloniais de Acajú(C_mpl_te), do Mombojó(Amigo do Tempo) e o álbum elogiadíssimo da banda de rock n' roll goiana Black Drawing Chalks(Life is a big holiday for us). Essas três bandas, hoje, já encabeçam a lista de festivais independentes do país e aparecem com frequência até na MTV.

Rezando na cartilha do Indie Rock, criado pelo Pavement, no início dos anos 90, dispomos de bandas ótimas, é o caso dos paulistanos do Pullovers, banda com dez anos de formação que recentemente lançou o ótimo álbum Tudo que sempre sonhei e do Holger; também dos gaúchos do Superguidis, que recentemente sobrepôs os instrumentos de cordas às guitarras construindo um som maduro e profundo(álbum lançado em 2010, auto-intitulado). Outras duas bandas com uma "raíz comum" são a Supercordas(RJ) e Charme Chulo(PR), que fazem um som um pouco mais abrasileirado; no caso do Supercordas acrescenta-se ao rock um psicodelismo bucólico(ou seria bucolismo psicodélico?) e o Charme Chulo bebe na fonte da música caipira brasileira. Álbuns indicados: Seres verdes ao redor (Supercordas); Nova Onda Caipira(Charme Chulo).

Por último, indico duas bandas de Rock n' Roll, e animalescas. Com R maiúsculo. Uma é a gaúcha Rinoceronte, som pesado tal qual o animal que dá nome à banda. E a outra a excelente Orquestra Camarones Guitarrística, de Natal-RN, rock pesado instrumental, energizante; banda à altura de grandes festivais e para se curtir ao vivo.

Resumindo, é isto. Se você ignorar este cenário, ou é preguiçoso... ou não gosta de rock.

Saturday, July 24, 2010

Cortando os laços pela raíz




"Estou saindo da via única que sempre caminhei. É uma coisa pessoal. Indo a qualquer lugar que eu possa suportar, aqui dentro desta gaiola eu não me arrependo de estar.

Pare, antes que você caia dentro do buraco que cavei ao redor de mim. É diferente pra mim, eu simplesmente tenho que vagar pelo mundo... sozinho."


(Pete Yorn - Lose You)

"Então você vai mesmo embora?"

Sim, vou embora. Preciso fazer isso por mim. Foi o que eu falei enquanto terminava de arrumar minha mala. Só uma mala.

"Tem muita gente aqui que vai sentir sua falta"

Eu disse que nada mais me prendia aqui, e que quase ninguém sentiria minha falta.

- É simplesmente sufocante ficar aqui. Agora que eu tenho um diploma, sou obrigado a honrá-lo. Amanhã na festa de formatura meu pai vai mostrá-lo com orgulho, falar de todo o meu potencial para amigos e familiares, numa forma de fazer cobrança indiretamente. As pessoas me perguntam porque eu ainda não tenho carro, ou quanto vou ganhar, aonde irei trabalhar... sufocante demais.

- Você cresceu aqui, as pessoas gostam de você... essas cobranças acontecem com todo mundo, em algum momento.

- Não... passei minha vida inteira fazendo coisas levando em consideração os outros, agora é a minha vez. Se eu me arrebentar nisso, quero fazer sem alguém por trás me julgando, reprovando ou aprovando.

- É, acho que crescer significa fazer algo que a gente não gosta visando algo maior.

- Amadurecer é uma merda. Esse algo maior ao qual você se referiu é simplesmente estar o tempo todo agradando alguém, se for assim, prefiro ir para uma cidade distante, longe de todos que conheço, mas sendo feliz, mesmo que isto signifique ser imaturo para sempre, já que amadurecer é só o ato de estar disposto a renunciar do que se gosta para agradar aos outros.

- Feliz? Você realmente acha que vai ser feliz no lugar em que está indo?

- Não, mas eu já não sou feliz aqui, pelo menos lá minhas chances aumentam...

Eu não estava imigrando para o Sul, eu estava migrando daqui. Não estava chegando a lugar nenhum, estava apenas saindo de um. Era algo que precisava fazer para continuar ao menos vivo. Continuar aonde eu estava poderia manter meu corpo vivo, mas minha alma já estaria amputada de mim mesmo se eu tivesse ficado.

- Porquê você não fica? Se eu pedisse, por mim, faria alguma diferença?

- Não sou do tipo de pessoa que fica. Nem do tipo que chega a algum lugar. Sou do tipo que vai embora.

- Do tipo que foge de encarar seus problemas. Um covarde, é o que você é. Você quer estar ilhado. É mais fácil conviver com a infelicidade do que a felicidade, a obrigação é menor.

Nisso ela estava certa. Como disse Vinícius de Morais, quem de dentro de si não sai vai morrer sem amar ninguém. E aqui estou, muito perto de morrer, sem nunca ter amado ninguém na vida. Pouco sabia eu que me tornaria um nômade, mudande de cidade em cidade. A partir do momento que eu estabelecesse qualquer laço emocional com algo ou alguém, me mudava. Se eu soubesse disso na época e não fosse tão jovem e arrogante, teria ficado, teria me arriscado. Perder algo é melhor do que hesitar e não tentar, só quem sabe disso é quem já está velho e perto de morrer e não possui nenhuma memória boa da vida para se ater no momento da morte e assim morrer feliz. Mas não me arrependo do que fiz, ao menos manti minha alma perto de mim. Afinal, é melhor não viver infeliz do que morrer feliz. E esta foi a escolha que tomei.

- Por favor, não vá. Imagine o quanto que você ganharia aqui se não fosse. Ganharia muitas coisas boas, muito mais do que em qualquer lugar que você vá assim, sozinho.

- Você não entendeu. Não penso nisso. Estou pensando no quanto eu perderia se ficasse.