Saturday, July 24, 2010

Cortando os laços pela raíz




"Estou saindo da via única que sempre caminhei. É uma coisa pessoal. Indo a qualquer lugar que eu possa suportar, aqui dentro desta gaiola eu não me arrependo de estar.

Pare, antes que você caia dentro do buraco que cavei ao redor de mim. É diferente pra mim, eu simplesmente tenho que vagar pelo mundo... sozinho."


(Pete Yorn - Lose You)

"Então você vai mesmo embora?"

Sim, vou embora. Preciso fazer isso por mim. Foi o que eu falei enquanto terminava de arrumar minha mala. Só uma mala.

"Tem muita gente aqui que vai sentir sua falta"

Eu disse que nada mais me prendia aqui, e que quase ninguém sentiria minha falta.

- É simplesmente sufocante ficar aqui. Agora que eu tenho um diploma, sou obrigado a honrá-lo. Amanhã na festa de formatura meu pai vai mostrá-lo com orgulho, falar de todo o meu potencial para amigos e familiares, numa forma de fazer cobrança indiretamente. As pessoas me perguntam porque eu ainda não tenho carro, ou quanto vou ganhar, aonde irei trabalhar... sufocante demais.

- Você cresceu aqui, as pessoas gostam de você... essas cobranças acontecem com todo mundo, em algum momento.

- Não... passei minha vida inteira fazendo coisas levando em consideração os outros, agora é a minha vez. Se eu me arrebentar nisso, quero fazer sem alguém por trás me julgando, reprovando ou aprovando.

- É, acho que crescer significa fazer algo que a gente não gosta visando algo maior.

- Amadurecer é uma merda. Esse algo maior ao qual você se referiu é simplesmente estar o tempo todo agradando alguém, se for assim, prefiro ir para uma cidade distante, longe de todos que conheço, mas sendo feliz, mesmo que isto signifique ser imaturo para sempre, já que amadurecer é só o ato de estar disposto a renunciar do que se gosta para agradar aos outros.

- Feliz? Você realmente acha que vai ser feliz no lugar em que está indo?

- Não, mas eu já não sou feliz aqui, pelo menos lá minhas chances aumentam...

Eu não estava imigrando para o Sul, eu estava migrando daqui. Não estava chegando a lugar nenhum, estava apenas saindo de um. Era algo que precisava fazer para continuar ao menos vivo. Continuar aonde eu estava poderia manter meu corpo vivo, mas minha alma já estaria amputada de mim mesmo se eu tivesse ficado.

- Porquê você não fica? Se eu pedisse, por mim, faria alguma diferença?

- Não sou do tipo de pessoa que fica. Nem do tipo que chega a algum lugar. Sou do tipo que vai embora.

- Do tipo que foge de encarar seus problemas. Um covarde, é o que você é. Você quer estar ilhado. É mais fácil conviver com a infelicidade do que a felicidade, a obrigação é menor.

Nisso ela estava certa. Como disse Vinícius de Morais, quem de dentro de si não sai vai morrer sem amar ninguém. E aqui estou, muito perto de morrer, sem nunca ter amado ninguém na vida. Pouco sabia eu que me tornaria um nômade, mudande de cidade em cidade. A partir do momento que eu estabelecesse qualquer laço emocional com algo ou alguém, me mudava. Se eu soubesse disso na época e não fosse tão jovem e arrogante, teria ficado, teria me arriscado. Perder algo é melhor do que hesitar e não tentar, só quem sabe disso é quem já está velho e perto de morrer e não possui nenhuma memória boa da vida para se ater no momento da morte e assim morrer feliz. Mas não me arrependo do que fiz, ao menos manti minha alma perto de mim. Afinal, é melhor não viver infeliz do que morrer feliz. E esta foi a escolha que tomei.

- Por favor, não vá. Imagine o quanto que você ganharia aqui se não fosse. Ganharia muitas coisas boas, muito mais do que em qualquer lugar que você vá assim, sozinho.

- Você não entendeu. Não penso nisso. Estou pensando no quanto eu perderia se ficasse.

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