Thursday, December 03, 2009

Como desaparecer completamente...



Em determinado momento do livro "O Apanhador no Campo de Centeio", clássico da literatura norte-americana, o protagonista, o adolescente Holden Caulfield, depois de uma série de eventos que fizeram-no perder o que restava de sua pouca fé na humanidade, entrou em uma depressão profunda, começou a planejar sua vida fora daquele cotidiano que o artodoava - de idiotas marombeiros maníacos por carros e sexo à pessoas sem noção que pichavam a palavra "Fuck!" numa escola para crianças. A vida que ele pretendia seguir para fugir de todas essas pessoas era se mandar para qualquer fazenda, ser um trabalhador braçal recluso e fingir que era surdo-mudo para nunca mais conversar com qualquer ser-humano. De certa forma, o plano de Caulfield era simplesmente uma negação de sua vida, de suas origens, e acima de tudo; uma negação da realidade. Tanto que em certa passagem, durante este momento descrito, ele pede à alma de seu irmão mais novo falecido "Por favor, allie, não me deixe desaparecer; não me deixe desaparecer"... devido à sensação de estar num processo de desaparecimento lento, descrito por ele. Em essência, é assim que eu me sinto.

Por diversos motivos advindos de um cotidiano insuportavelmente besta, fica mais confortante repetir para si mesmo, como diz o Thom Yorke em uma de suas músicas mais belas - How to disappear completely - "Eu não estou aqui. Isto não está acontecendo... Em pouco tempo, eu já terei sumido". É impressionante o efeito que faz ficar repetindo isto para si mesmo. Não duvide do poder da negação. Rejeitar a realidade faz da existência um lugar mais suportável, pois o mundo não é um lugar seguro, todos nós sabemos disso.

Ironicamente, sempre acreditei no poder de cura do pessimismo. Reconhecer-se como uma insignificante micropartícula diante da imensidão inimaginável do Universo nos faz aceitar a vida de fato e as condições que nos são impostas. E negar o sentido de tudo, acredite, desestressa bastante. A sua e a nossa pseudo-felicidade(farsas, como todas) não é atingida, mas boa parte do sofrimento inútil nos é subtraída.

Enfim, tudo isso aqui dito não passa daquilo que melhor sei fazer na vida, complicar algo descomplicável: o nada. Encher de palavras para conceituar algo que não se dá para conceituar. Capturar essências vazias no ar e transformá-las em pseudo-filosofia, ou tentar achar algum valor estético na depressão. Mas não posso evitar, acho que nasci para isso, para essas levianidades bobas, pois é mais fácil escrever tudo isto para negar a vida do que vivê-la de fato, menos sofrimento, é a minha forma de desaparecer completamente. Aqui nesta casamata eu me sinto mais vivo e tudo me é permitido.


"A vida é uma perturbação inútil na imensidão de tranqüilidade que é o nada".

Artur Schopenhauer.

2 comments:

Anonymous said...

Em contraposição, eu citaria Vinícius de Morais: "quem de dentro de si não sai, vai morrer sem amar alguém". Schopenhauer morreu acompanhado somente de seu cachorro e seu pessimismo, é uma prova de que Vinícius estava certo. Pense nisso.

Anonymous said...

a vida é realmente muito estranha e sem graça as vezes, mas ouvir um cara como o thom york não vai te ajudar mesmo.

whatever, holden é um cara legal...