Wednesday, October 29, 2008

O medo de tentar, e de ser feliz


Quando eu era criança, não era quase nada diferente do que sou hoje. Bastante introspectivo, calado, e, apesar de calado, mantia uma cara involuntária de poucos amigos, o que afastava as outras crianças de mim. Também era gordinho e branquelo, parecia aquelas crianças mimadas criadas em restaurantes McDonalds.

Eu não gostava de sair muito de casa. Mas a maior diversão que eu tinha era quando meu pai falava para eu e meus irmãos colocarmos uma boa roupa, porque iríamos jantar fora. Eu ficava alegre a partir daí, pois sabia que era grande a chance de jantarmos numa Pizzaria que costumávamos ir, e, como era tradição, após o jantar, alugaríamos filmes. Era a década de 90, alugávamos filmes em VHS. Eu tinha direito a alugar um filme, meu irmão alugava outro. Geralmente alugávamos os filmes de super-heróis enlatados do Japão(Jiban, Jiraya, Ultraman, Black Kamen Raider) ou mesmo dos Estados Unidos. O que importa é que eu ficava encantado com aqueles filmes, rejeitados por qualquer analista "intelectual" de cinema, eram filmes considerados toscos até para as crianças da época. Eu via todos os filmes que alugávamos durante o fim de semana, repetidindo cada um várias vezes.

Quando eu fiz 10 anos, ganhei um Gameboy e a TV passou a exibir Dragon Ball Z e Pokémon. Minha diversão mudou de foco.

Mas sempre, sempre, sempre. Desde os primeiros momentos da minha vida dos quais eu me recordo, até mesmo quando não sabia ler, ver filmes era a melhor coisa do mundo. Era o céu. O Cinema influenciou minha vida de forma interna. Eu me imaginava num filme, com alguma trilha sonora fantástica, como a do Indiana Jones. Eu brincava no quintal da minha casa, com uma vassoura, que fingia ser uma espada, ou um sabre-de-luz, ou um companheiro; inventando estórias que serviriam de filmes novos, ou sequências para séries já existentes. Criava boas coisas até. Me arrependo de não tê-las escrito.

Em 1999, a televisão foi tomada por propagandas comerciais daquele que se tornaria um dos três filmes de maior bilheteria da história do cinema. A mídia só falava dele, era um filme que retomava um série que tinha dado uma pausa vinte anos antes. O nome do filme era A Ameaça Fantasma, se tratava do início da nova trilogia de Star Wars, que contaria a história do Darth Vader, imortalizado vilão da primeira trilogia. Na época eu tinha 9 anos, e não tinha idade suficiente para entrar no cinema, pois o filme tinha censura 12 anos. Mas me interessei e pedi emprestado a um amigo as fitas dos filmes clássicos de Star Wars. Qualquer filme médio de ação da minha época, como Kazam!, tinham efeitos especiais mais bem feitos. Star Wars era visualmente tosco para o que eu estava acostumado a ver, e eu amei cada minuto dos três filmes. Alguns anos mais tarde pude ver os outros filmes da série no cinema(várias vezes!), e a experiência de ver no cinema o famoso texto de abertura dos filmes, com a trilha sonora de John Williams de fundo, me fazia arrepiar os cabelos, chorar, rir, e ter os momentos de maior felicidade da vida.

Deu para perceber que eu gostava bastante de cinema, certo? Só que minha mente mudou de verdade com a chegada do DVD. Meu pai sempre fora fã da série O Poderoso Chefão, trilogia que conta a história de uma poderosa família de mafiosos italianos dos EUA. Eu vi os três filmes em dvd, mas a diferença é que, além de ficar totalmente encantado com aqueles filmes(que até então eram os melhores que já tinha visto), eu dei uma olhada no Making Of do filme. Fiquei mais encantado. Ao ver como se fazia um filme, como era tudo preparado, eu tinha me decidido. Eu realmente amava aquilo, e meu lugar era atrás das câmeras que produziam tudo aquilo que eu amava. Eu não sei exatamente o porque, mas desde o dia, eu pus na cabeça que só seria feliz quando entrasse na profissão de cineasta, e, claro, venho cada vez mais vendo e revendo filmes com mais entusiasmo.

Era realmente a única coisa que eu amava a ponto de poder dedicar toda minha vida àquilo, e não me arrepender em nada de ter feito isto. Pois no fim, valeria a pena.

Hoje eu tenho 19 anos, não sou mais o garoto de 7 anos que via filmes-B japoneses sobre heróis robóticos que lutavam contra monstros gigantes, não sou mais o garoto de 9 anos que se apaixonou pelas palavas trocadas do Yoda e pela maldade maravilhosa do Darth Vader, e, infelizmente, também não sou mais o adolescente de 14 anos que queria crescer logo e criar outra trilogia de filmes, que fosse tão importante quanto Star Wars ou O Poderoso Chefão.
Moro numa cidade que, além de não ter nenhum resquício de produção cinematográfica, está irritantemente distante de qualquer centro relativo de estudo e produção em Cinema. Até mesmo qualquer curso de Comunicação Social não estava dentro da lista de possibilidades quando fui fazer meu primeiro vestibular. "Não dá dinheiro", foi o que me disseram. Todas as pessoas a quem pedi uma opinião sobre o que fazer.

Entrei no curso de Direito. E vejo meu futuro como um adulto, ainda medroso, que olha para o passado com tristeza, e se arrepende de não ter feito o que queria, o que lhe deixaria feliz. O adulto que tomou a decisão de fazer aquilo que lhe rendia maior aceitação social e que lhe traria maior possibilidade de ter uma renda boa, que dê para comprar carro, casa mediana, comidas com direito à requeijão e batata-frita e sapatos de couro.
Você está lendo o texto e talvez venha me dizer "Ainda há tempo, rapaz, você é jovem!"

Não há tempo, nunca houve. Mesmo que eu ainda fosse aquela criança com sonhos esperançosos, não haveria tempo. O tempo só existe para quem o usa como possibilidade desde o início do jogo. Desde que aprendi a pensar, eu não controlo e cavalgo as dificuldades da vida. As dificuldades da vida cavalgam em mim, me controlam rigidamente, sem chance para o escapamento.

Escrevi esse texto porque gosto de deixar registrado alguns sentimentos meus. Quando eu for velho e infeliz, posso ler isto e pelo menos lembrar de que a vida nunca foi fácil, nem será.
Se eu puder lhe dar um conselho, e se você puder dar algum conselho a alguém, dê este: É muito melhor se arrepender de ter feito algo que não deu certo do que se arrepender eternamente de não ter tido a coragem de fazê-lo.

Eu tenho plena consciência disto, e por quê não sigo?
Eu sou medroso.

"Tentar não irá. Faça ou não faça. Não tente"
Yoda

1 comment:

Anonymous said...

Ainda dá tempo de enfrentar esse seu medo.
Que tal fazermos uma faculdade de cinema juntos.

Acredito que mesmo depois de tudo, ainda teremos a oportunidade pra isso.
Se o mundo não acabar em 2012.